VIOLÊNCIAS E VIOLAÇÕES IMPERTINENTES - DIREITO E PSICANÁLISE IV

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  • Livraria e Editora Scriptum Rua Fernandes Tourinho, 99, Belo Horizonte (MG)
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Apresentação

 

A complexidade simbólica, jurídica e criminológica da realidade contemporânea, acrescida das idiossincrasias de cada contexto nacional, inauguraram perspectivas inéditas de se pensar a vida em comum. Esse livro é fruto de análises férteis das interfaces da psicanálise com o campo do Direito, das políticas públicas, da saúde mental e da segurança pública, tendo seu fulcro na problematização do crime que, muitas vezes, o descentra de sua razão formal. Invertemos as lentes, elucidamos as fissuras e remapeamos percursos tradicionais, na busca pela elucidação de caminhos éticos na discussão do crime. Visamos ao ultrapassamento de qualquer redução analítica que se oponha ao livre pensamento sobre os modos como o sujeito (do inconsciente) resiste ao surgimento de novos mal-estares em tempos de neoliberalismo.

Assim, o livro se inicia com duas intensas experiências: aquela das crianças e adolescentes recrutados para as guerras africanas, trazida por Olivier Douville, e a outra dos jovens sicários na Colômbia, relatada com paixão por Mario Elkin Ramirez. A frieza das duras decisões precoces que engendram escolhas mortíferas forçadas em cada caso, inflete uma conjuntura na qual o ódio e a vingança se tornam a língua mãe de todo uma nação. Daí a oferta da palavra na mediação dos conflitos e dos acordos de paz tornar-se uma imperiosa necessidade, cada vez mais indispensável.

No contexto brasileiro, Eduardo Pontes nos traz questões relativas à Síndrome de Alienação Parental a partir da psicanálise, atualizando os escritos sobre o tema. Enquanto Camila Moreira, Omar David e Rafaella Rodrigues trazem uma reflexão sobre o lugar da família em um exercício restaurador realizado com o Projeto Ciranda de Justiça Restaurativa, partindo da leitura psicanalítica da inscrição subjetiva da dimensão familiar entre os participantes do exercício, membros de uma família denominada como a família Mórmon, dada a incidência forte dessa religião no sintoma familiar e nas rupturas que se apresentaram.

Jacqueline de Oliveira e Juliana Morganti trazem a vivência profisisonal com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de semiliberdade, por meio da escuta guiada pela Clínica do Testemunho, a fim de mostrar como a criminalidade surge como uma possibilidade de dar visibilidade aos jovens, mesmo que por meios ilícitos. Andréa Guerra e Omar David retomam o conceito de “reparação” próprio da justiça restaurativa e o articulam com a psicanálise de orientação lacaniana, a partir da bela reflexão comparativa sobre o lugar do laço social em casos de adolescentes que desistiram do conflito armado na Colômbia e da violência urbana no Brasil.

Amanda Naves, Camila Nicácio e Júlia Dinardi mostram os efeitos da prática estatal de afastamento arbitrário de crianças e suas mães em situação de vulnerabilidade social, num potente texto-denúncia que reflete sobre a crueldade dessa situação, curiosamente defendida no interior do campo chamado da Justiça. De forma semelhante, Carlos Henrique de Oliveira e Paula Dias expandem o horizonte analítico sobre o impacto do discurso jurídico no acompanhamento de famílias em situação de risco e vulnerabilidade social, desvelando seus interstícios, nem sempre evidentes.

Fábio Bispo, Anallú Guimarães e Bruna Dalvi trazem as considerações sobre medo e violência durante a greve da Polícia Militar no Espírito Santo, mostrando como o estado de exceção tende a apresentar-se cada vez mais como uma “técnica de governo” que ameaça transformar o estado democrático em estado policial. Andréa Guerra, Camila Moreira e Marina Otoni discorrem sobre o ato homicida denunciado por uma pichação em uma capital brasileira por meio da retomada teórica da motivação do crime em psicanálise no diálogo com o Direito.

Joana Panzera, Fuad Kyrillos e Roberto Pires reatualizam a discussão sobre as articulações e contraposições da noção de inimputabilidade do “louco infrator” e, o que em psicanálise, definimos como responsabilidade subjetiva. Para, finalmente, Thaís de Campos nos brindar com uma rica análise do conceito de supereu, a partir das manifestações extraídas de cenas do filme Dogville.

Trata-se, como se vê, de um livro atual e reflexivo, que conjuga Psicanálise, Direito e Criminologia no horizonte de nossa época neoliberal, fluida e descortinada em suas meias verdades, que definem os usos dos corpos, das leis e das subjetividades de cada um(a). Não é preciso coragem mas, antes, destreza para se usar esse livro como dispositivo de estudo, compartilhamento, resistência e aprendizado. Tudo no mesmo ato que se realiza com sua aguçada leitura! Voce é nosso convidado(a)!

 

Andréa Máris Campos Guerra

Marina Soares Otoni

Paula Dias Moreira Penna

(organizadoras)