METAMORFOSE DOS MESMOS

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A poesia de Néia Gesualdi é dotada de uma singular energia. E parece também movida por essa mesma energia. É esse impulso de base, feminino e jovem, que constitui e expressa a matéria captada nos poemas.
Essa energia, insisto, feminina e jovem, institui o olhar do sujeito sobre coisas, objetos, afetos, sentimentos, memórias, família, circunstâncias singelas ou perplexas da infância que se foi ou ainda não se foi de todo, do cotidiano das ruas, das casas, da cidade, e também de intimidades femininas — desnudadas ou veladas —, do ser/estar da mulher no mundo, e metáforas e alumbramentos do amor e da morte.
Como se vê, estamos diante de matéria muito variada — de fato um mundo de fragmentos — cujo horizonte poderíamos chamar de pós-moderno, não fosse o conceito um paradoxo e um impasse, em pleno desgaste e ruína.
Essa matéria variada na perspectiva de um sujeito, sem dúvida feminino mas por formar-se como tal, parece indicar para algo que apalpa a solidão e se expressa em busca de constituição de forma e unidade. Será isso da condição contemporânea da mulher jovem? Do olhar ambíguo sobre a circunstância íntima que procura sentido? Dos atritos do corpo e do espírito com as ruas e a cidade? O solo é quase movediço no encontro com a linguagem e com a poesia possível neste mundo pouco poético. Daí a poesia que ronda o antipoético...
E a poesia brasileira atual, e algo de sua herança, estão atadas no livro? Às vezes a poesia de Néia Gesualdi revela uma experiência cujo chão e cujo movimento desfazem do mundo e do moderno, feito uma borboleta encantada com as cores das próprias asas. Mas há muito substrato rico e energético perpassando os versos.
Creio que Néia Gesualdi publica esta Metamorfose dos mesmos — título que em seu paradoxo é revelador do livro — como promessa, prometida e comprometida nos poemas melhor realizados, de um percurso no qual a energia singular, que é forte, há de consolidar uma voz nova e original dentre os muitos poetas nossos de hoje. A poesia brasileira precisa disso e temos índices seguros do que certamente virá.

Valentim Facioli
Professor Doutor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo