A cor da fé

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Não há aqui a pretensão de analisar a "religião em si" (suas cosmologias, rituais e liturgias) nem os processos de adesão dos atores a determinado regime de crença, mas sim de investigar como alguns líderes religiosos estabelecem para si a questão da"identidade negra", como a interpretam e lidam com o preconceito, a discriminação e a exigência de ações afirmativas. Dito de outro modo, a reflexão ora apresentada aborda como são elaborados, no interior do campo religioso (nos segmentos aqui selecionados: afro, católico e "evangélico"), termos de identificação étnico-racial e a consequente apropriação de sinais diacríticos constitutivos dessa identidade, os chamados "símbolos da herança africana no Brasil". [.] aqui não nos interessa saber oque é a "identidade negra" para este ou aquele grupo, e sim como o uso de determinada categoria põe atores em relação, permite estabelecer consensos e produz ações políticas. [.] o objetivo principal é observar de que modo alguns líderes religiosos (afro-brasileiros, católicos e evangélicos) estabelecem a relação entre opção religiosa e "identidade negra" e manipulam essa relação "internamente" ao campo religioso (por meio de ações de proselitismo ou de construções teológicas, como a "teologia negra"), justificando "externamente" aos gestores públicos suas demandas por políticas voltadas aos segmentos religiosos específicos, como os "povos tradicionais de matriz africana". [.] Esses três segmentos religiosos parecem apontar diferentes formas de diálogo entre religião e "identidade negra". As religiões afro-brasileiras (sobretudo o candomblé) se aproveitam de uma herança dada pela própria constituição do campo e se impõem no espaço público como representantes por excelência da "culturanegra", com o patrocínio de políticas públicas (como tombamento de terreiros, políticas de patrimonialização etc.). O catolicismo, por sua vez, vem se apropriando desses valores religiosos do mundo afro traduzindo- os em seu próprio campo religioso (por meio das liturgias inculturadas), como forma de estender sua mensagem para a comunidade negra. Por fim, os evangélicos se põem no extremo oposto às religiões afro-brasileiras, pois alguns de seus membros tentam romper com o universo afro-brasileiro (demonizando suas práticas e crenças), enquanto outra parcela procura construir uma identidade negra que não passe pela valorização dos símbolos da "negritude"

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