A inconstância da alma selvagem
O volume inclui os principais textos que tornaram Eduardo Viveiros de Castro um dos mais influentes pensadores brasileiros da atualidade, no período que vai desde seu mestrado, em 1976, até 2000. Em grande parte centrados nas sociedades amazônicas, os oito ensaios são baseados em artigos publicados que foram selecionados e revistos pelo autor. Do forte diálogo entre a antropologia e a filosofia resultam conceitos-chave da obra do autor, como predação, troca, afinidade potencial e perspectivismo – o qual permite entender como os índios enxergam os animais e a si próprios. A disposição cronológica dos ensaios revela ao leitor o processo de amadurecimento de tais conceitos ao longo da trajetória do autor.
Conforme lembra o antropólogo no prefácio, a antropologia é sempre um exercício de tradução de uma cultura segundo outra. Reconstituir a imaginação indígena nos termos da nossa implicaria, portanto, algumas imprecisões. No entanto, se o exercício é bem feito, atinge-se o ponto em que transformamos o que entendemos em nossos termos em algo cujo significado se aproxima daquilo que os índios entendem nos termos deles. Ou seja, trata-se de um processo onde não somente a imaginação dos povos indígenas está em jogo, mas também a nossa; no qual os conceitos vão se distanciando cada vez mais de seus sentidos usuais e vão tomando novas formas.
O livro traz ainda entrevista com o autor – feita por jovens antropólogos da revista Sexta Feira – onde ele trata de seu percurso sob uma abordagem mais concreta. Ele revela, por exemplo, como se deu sua passagem de estudioso de antropologia urbana para um de etnologia indígena, e sua entrada na Amazônia, território ainda relativamente inexplorado mesmo dentro de sua disciplina.