A mulher de Gilles

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Um dos grandes temas da literatura, o adultério, recebe em A mulher de Gilles, de Madeleine Bourdouxhe (1906-1996), um tratamento delicado e pungente, com ponto de vista marcadamente feminino. Inédita no Brasil, a autora belga foi uma militante pelos direitos da mulher e citada por Simone de Beauvoir em sua obra mais célebre, O segundo sexo. Entre as peculiaridades do lançamento da CARAMBAIA estão sua ambientação no enfumaçado meio operário de Liège, às vésperas da Segunda Guerra, e a atitude de aceitação – quase cumplicidade – de Élisa, a protagonista, frente à natureza rude de seu marido. A edição tem tradução da premiada Monica Stahel e posfácio de Michel Thorgal, pseudônimo de Raoul Vaneigen, um dos ideólogos dos protestos de maio de 1968 na França.

No simples mas surpreendente enredo, Gilles se aproxima de Victorine, irmã de sua esposa Élisa, enquanto o tempo de Élisa é consumido pelos cuidados com as filhas gêmeas e por uma gravidez adiantada. Movida pela desconfiança, Élisa tem suas suspeitas confirmadas, mas assume uma posição inesperada. Conforme a trama avança, a complexidade das ações e sentimentos dos personagens caracteriza o romance como uma verdadeira obra-prima no tratamento do ciúme, da paixão, do desejo.

O que os três personagens têm em comum são os impulsos gerados pelo desejo, que “nasce assim, de um nada” e insiste em durar, mesmo que, no caso de Élisa, implique solidão.

“A alegria de amar está condenada à angústia de se extinguir”, escreve Thorgal no posfácio. Quanto a isso, a história da protagonista toma contornos sociais. “Tudo é disposto pela sociedade para que a parte essencial da vida tenha cor de doença e de morte.”

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