AMANHÃ ALGUÉM MORRE NO SAMBA

Em 2016, foi publicado pelas Edições Macondo "A metáfora mais gentil do mundo gentil", primeiro livro de Carla Diacov editado no Brasil. Agora, "Amanhã alguém morre no samba", anteriormente publicado em Portugal, ganha sua primeira edição brasileira, também pelas Edições Macondo, com apresentação de Valter Hugo Mãe. Com uma produção extensa e, sobretudo, viva, a poética de Carla Diacov não se propõe a colocar as coisas no lugar, pelo contrário. Pode colocar, mas é no fluxo da regra que chega esse período Diacov. Seu primeiro livro, este, é o toque de recobra da mulher do fluxo. A linguagem é alteridade de um corpo bicho & o corpo costura pelo afetar-se nos encontros violentos das potências da matéria. O vermelho que incita o corpo ou sinaliza uma proibição; o corpo verborrágico vermelho vazando pelo ovário direito ou pelo corte. Tal qual a mordida, se misturam sons, imagens, ideias e palavras na boca do leitor que, com os dentes afiados – lâmina ágil –, se desvia das pedras calcadas na certeza e se lança ao prato. Como a faca que atravessa a carne, insubordinada e tingida de vermelho, "Amanhã alguém morre no samba" traz o sabor do que se movimenta: não há paráfrase para a experiência poética.