Árido: Histórias de outras vidas secas
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Publicado pela primeira vez em 1938, o romance Vidas secas viria a se tornar a obra mais emblemática de Graciliano Ramos. Para celebrar o autor e manter vivos os temas que pautaram sua trajetória literária, a coletânea Árido reúne alguns dos mais promissores autores contemporâneos de todas as regiões do Brasil para contar as histórias de um povo que ainda, sob muitos aspectos, encara os mesmos desafios: fome, miséria, solidão, violência e abandono.
A permanência no tempo é a mais evidente das formas de consagração de um escritor, porém o reconhecimento definitivo de sua importância só ocorre quando ele passa a influenciar outros autores, transformando-se de simples narrador em fonte de inspiração.
Mais relevante do que nunca, a obra de Graciliano Ramos serve como ponto de partida e louvação para os muitos Fabianos, Sinhás Vitória, Baleias e meninos mais velhos e mais novos deste Brasil de coração árido. Estes contos nos transportam àquele ponto de convergência em que ser pessoa e ser bicho se confundem, onde violência e compaixão se revezam, um lugar no qual reina a desesperança e o esquecimento. Aqui, cinco autores representantes das cinco regiões do país nos brindam com histórias espelhando diferentes tipos de vidas secas:
Em "Os pioneiros", de Fabiane Guimarães, Fátima recebe em seu sítio cientistas que investigam as pinturas rupestres de uma gruta. "Estamos redescobrindo a história", dizem, enquanto menosprezam essa mesma história e os moradores locais que a carregam.
Em "A campanha", de José Falero, algo de bom morre na província de São Pedro quando um menino descobre um laranjal e ali tenta saciar sua fome, enquanto os fazendeiros que encontram o guri faminto desejam apenas saciar a sede de matar.
"A chuva lenta", de Tanto Tupiassu, narra o desespero de Mariinha ao ver sua casa ribeirinha ser invadidapela água. Não há via de escape, apenas um sono de esquecimento e os braços ávidos dos encantados,à espera de recuperar o que sempre foi deles.
Ana Paula Lisboa expõe o fim do tempo em "O menino mais novo". Tempo que se encerra com uma cabeça e uma bala. Uma vida interrompida, assombrando a existência de quem fica... A mãe permanece aprisionada no tempo perdido, o tempo em que seu filho ainda vivia.
"O sítio Ruim", de Cristhiano Aguiar, nos faz visitar uma casa que não chegou a ser um lar. Emanuel toma conhecimento do Contrato firmado por sua família, que faz com que todos os homens ― igualmente tolos ― morram antes dos quarenta anos. Mas Emanuel não é um homem, e esse não será o primeiro contrato que ela precisará quebrar.
Mesmo tão distintas entre si, essas cinco histórias são igualmente impregnadas pela potência do clássico de Graciliano, comprovando que a literatura brasileira segue viva e escaldante como sempre.