AS IRMAS MAKIOKA
“O mundo dos romances de Tanizaki é de fato abstrato. Há, contudo, uma exceção, As irmãs Makioka, e este excepcional trabalho é o ponto alto deste autor, um dos poucos grandes livros escritos durante a guerra e um marco na história da literatura japonesa.”
– Shuichi Kato , professor de história intelectual japonesa na Universidade de Sophia, em Tóquio
A obra
Considerada a obra-prima do escritor Jun`ichiro Tanizaki, As irmãs Makioka traça um sutil e complexo perfil da sociedade japonesa durante os anos 1930 e aborda uma série de conflitos entre os valores japoneses e os ocidentais e entre a tradição e a modernidade. A história, que começa no outono de 1936 e termina em abril de 1941, sob o impacto da Segunda Guerra Mundial, retrata a vida de uma abastada família da região de Kyoto e Osaka, no oeste do país. As irmãs Makioka (Tsuruko, Sachiko, Yukiko e Taeko) tentam resolver juntas seus problemas familiares e arranjar um casamento para a terceira das irmãs, Yukiko, uma mulher de crenças tradicionais que aos trinta anos ainda não conseguiu se casar. Ao mesmo tempo representante da inércia das relações, esta personagem é também um estandarte da tradição. Aliás, uma partícula de seu nome compõe o título original do livro Sasameyuki – neve fina, a última a cair no inverno.
Taeko, a caçula, também tem intenções de se casar, mas, em respeito às convenções sociais japonesas, ela precisa esperar o casamento da mais velha para decidir seu futuro. Taeko é a personagem mais aberta à modernização dos costumes e à cultura ocidental, sofrendo as conseqüências de seu comportamento e suas opções. Ela padece de perdas e doenças – estas, aliás, um tema caro a Tanizaki, que faz memoráveis descrições de sintomas, tratamentos e medicamentos da época –, e marcada pela exclusão familiar. No entanto, embora Taeko seja moderna e auto-suficiente, resgata os valores tradicionais na arte e cultura japonesa antiga: ela dança e faz bonecos.
A questão tradição-modernidade aparece também na “rivalidade” entre a região de Kyoto e Osaka (mais tradicional e ligada aos valores antigos) e Tóquio (mais moderna e ocidentalizada). E também entre a casa central, onde mora a irmã mais velha com seu marido, e a secundária, onde está Sachiko e Teinosuke, a segunda irmã com quem as mais novas preferem viver.
Este romance tem como fonte de inspiração a terceira esposa do autor, a elegante Nezu Matsuko, representada no livro por Sachiko, e suas três irmãs, com quem Tanizaki passou a residir a partir de 1923, quando mudou-se de Tóquio para Ashiya, região de Kyoto-Osaka, devido ao grande terremoto que atingiu a capital. Os outros personagens também baseiam-se em amigos, conhecidos e familiares do autor. São reais também as referências de locais, assim como as ligadas à vida artística-cultural. A casa de Ashiya, inclusive, tornou-se ponto de visitação aberto ao público.
Os primeiros capítulos deste romance foram publicados originalmente em uma revista em 1943, mas o governo logo censurou a publicação, considerada inadequada para aquele período social e politicamente turbulento. Tanizaki continuou escrevendo e com seus próprios recursos bancou o lançamento de uma pequena edição do primeiro volume da obra, em 1944. Foi somente depois do fim da Segunda Guerra que o segundo e o terceiro volumes de As irmãs Makioka foram lançados, atingindo grande sucesso entre o público e a crítica literária.
Sob o mesmo título, a obra teve adaptações para o cinema, sendo a do diretor japonês Kon Ichikawa, de 1983, a mais conhecida.