AS MULHERES DA BREWSTER PLACE
Brewster Place nasceu de uma transação corrupta entre um vereador e um dono de imobiliária. Abrigou gerações de moradores – trabalhadores, imigrantes –, que assim que podiam deixavam o local. O romance começa quando o conjunto habitacional começa a receber moradores que, por mais que tentem, não conseguem sair de lá. São majoritariamente negros, vindos de outras regiões dos Estados Unidos, por total falta de opção. Acabam formando uma comunidade, separada do restante da cidade depois que uma das extremidades da rua foi murada. Ali, brotam relações de amizade e também atitudes mesquinhas, mas principalmente laços de família – nem sempre pacíficos. “As pessoas tinham a própria linguagem, a própria música e os próprios códigos”, descreve a autora.
As sete histórias que compõem o romance expõem a diversidade das experiências de vida das mulheres negras daquela comunidade. Contam a jornada solitária de uma jovem que engravida de um homem que não ama, enfrenta a hostilidade do pai e uma vida dura ao lado do filho; a chegada de uma cantora de jazz que “não só não estava disposta a jogar conforme as regras, como também desafiava, com seu espírito, o próprio direito de o jogo existir”; o orgulho de uma ativista dos direitos civis que desafia o espírito de acomodação ao seu redor; a maré de acontecimentos infelizes no dia a dia de uma mãe solteira com um marido agressivo e uma filha travessa; a vida de uma mulher que, desde as bonecas da infância, dedica-se à maternidade; por fim, os preconceitos enfrentados por um casal de lésbicas. Circulando entre elas está Ben, um simpático beberrão que atua como zelador e faz-tudo da vizinhança.
Subvertendo estereótipos e o costume de igualar vozes e experiências das mulheres negras, Naylor cria um retrato autêntico e vibrante dessas “filhas da Brewster Place” que “eram duras na queda e tinham coração mole, faziam exigências brutais e eram fáceis de agradar”.