ATÉ O ULTIMO HOMEM - VISÕES CARIOCAS DA ADMINISTRAÇÃO ARMADA DA VIDA SOCIAL
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ATÉ O ULTIMO HOMEM - VISÕES CARIOCAS DA ADMINISTRAÇÃO ARMADA DA VIDA SOCIAL

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ste livro analisa o processo de 'legitimação' das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em um quadro de colapso e dissolução da sociedade perante a ocupação militar das favelas cariocas. O Rio de Janeiro aparece como primeiro sintoma de que o desenvolvimentismo ufanista do Brasil nos anos 1950 e 1960 não poderia ir além do fracasso de sua própria autoimagem - 'um país do futuro em ruínas'. Para os autores, a invasão militar das favelas cariocas é emblemática - as UPPs revelam o modus operandi da gestão do desmoronamento da sociedade brasileira pelo exercício de um poder político fundamentado na persuasão por meios bélicos. Em um quadro pautado por megaeventos, valorização imobiliária e formação de milícias, o Rio de Janeiro parece revelar as tendências mais macabras da política nacional. À sombra do mito desenvolvimentista, a cidade deixou de ser a 'velha caixa de ressonância nacional', em que se jogavam lances decisivos da política do país, para tornar-se um 'implacável laboratório de gestão da barbárie'. Retraçando a trajetória da presença do exército nas ruas, da Operação Rio à ocupação do Complexo do Alemão, a coletânea revela aos poucos a relação entre a militarização da segurança pública e a militarização da vida social e cotidiana. No paradigma da ocupação permanente posto pelas UPPs, 'a oposição entre estado de direito e estado de exceção é resolvida numa unificação'. O aparente sucesso da implantação das UPPs surge como agravante de uma reestruturação das formas de operação do crime. As políticas de ocupação permanente têm como saldo o estilhaçamento, e não o fim, da venda de drogas ilegais, que continua a funcionar nas favelas ocupadas pelas UPPs, sob formas renovadas, como meio de corrupção - 'A crise tornou os ‘comandos’ da droga mais fragmentados, irracionais e autodestrutivos. Eles deixam de representar uma alternativa econômica, ainda que perigosa e ilegal, e tendem a se tornar núcleos de pura violência'. A dificuldade em definir um horizonte emancipatório manifesta-se de forma mais surpreendente na questão urbana. Se o aumento irrestrito de favelas já era sintoma conhecido do sucateamento do planejamento público, programas como o Favela-Bairro e o estímulo do 'empreendedorismo dos pobres' recolocam o problema em um novo patamar. À medida que a favela é aceita como modelo dominante de organização espacial, ela torna-se cada vez mais suscetível a processos de racionalização interna, repondo as tensões da 'gentrificação' e da valorização imobiliária. O resultado é um processo generalizado de 'favelização da cidade'. O comentário afiado sobre produtos culturais recentes, do funk ao cinema nacional, é a pedra de toque dessa análise original da realidade brasileira.

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