BERENICE PROCURA
Um menino de dois anos, filho de diplomata, brinca na praia de Copacabana sob os olhos vigilantes da babá. Ele tem uma das mãos ocupada com uma pá, que carrega com orgulho, e a outra entretida em recolher objetos do chão. Quando avista um morrote de areia, resolve pôr o utensílio de plástico em ação e começa a cavar. Até que encontra um corpo. Esse seria mais um caso para o inspetor Espinosa - se Luiz Alfredo Garcia-Roza não tivesse decidido dar um descanso ao personagem de seus cinco romances anteriores. No lugar dele, o autor apresenta Berenice, uma taxista de 34 anos, também carioca, que corre todas as manhãs para agüentar o tranco de mais de dez horas diárias de trabalho. Berenice mora com a mãe e o filho; seu ex-marido, Domingos, faz visitas regulares aos três. Mais regulares do que Berenice gostaria, aliás. Domingos é jornalista free-lancer. Colabora com alguns jornais, repassando notícias que recolhe em hospitais e delegacias. Graças a essas conexões, e numa tentativa de se reaproximar da ex-mulher, vira seu informante sobre o assassinato do travesti Valéria - enterrado nas areias de Copacabana e encontrado pelo pequeno estrangeiro com sua pá. Cansada de ser apenas uma "caixa de ressonância da cidade", um vazio onde as vozes dos passageiros ecoam, trazendo opiniões que entram e saem sem deixar nada, Berenice se envolve emocionalmente com o caso de Valéria e passa a comportar-se como detetive. E é através dela que Garcia-Roza nos apresenta um submundo inóspito da Cidade Maravilhosa, povoado por habitantes de galerias de águas pluviais e esgotos, órfãos criados por travestis, e delinqüentes que vivem de furtar turistas.