CATEGORIAS DO IMPOLÍTICO
A atual afasia da linguagem política, a crescente diluição do pensamento político nas certezas inabaláveis nos números da political science, nossa dificuldade em representar a realidade, não derivam apenas das mudanças ocorridas no cenário político internacional nos últimos cem anos. Elas derivam de uma série de dificuldades relativas à própria categoria de “representação” e demais categorias modernas.
A noção de “impolítico” construída neste livro desenha seu sentido a partir do esgotamento das categorias políticas modernas, que se tornaram incapazes de dar voz a perspectivas radicais genuínas. O impolítico é não apenas o oposto do político, mas sobretudo seu limite exterior. Se a forma-Estado contemporânea é ao mesmo tempo ‘teologizada’ e despolitizada, o impolítico é a borda a partir da qual podemos vislumbrar uma trajetória longe de todas as formas da teologia política e das tendências despolitizantes da modernidade.
Dessa maneira, a perspectiva do “impolítico” não se confunde com uma atitude apolítica ou antipolítica. O impolítico é o político considerado desde sua fronteira exterior. É sua determinação, no sentido em que ele define os “termos”: as palavras e seus confins.
O debate proposto aqui subtrai cuidadosamente algumas fronteiras metodológicas artificialmente erigidas entre ciência, teoria e filosofia política, teologia e literatura, através de um recurso maciço a autores decididamente indisciplinares, como Maquiavel, Hobbes, Schmitt, Foucault, Bataille, Arendt, Simone Weil, Canetti, entre outros.
O caminho forjado por essa análise é um verdadeiro desafio para o léxico político moderno, mas ao mesmo tempo uma contribuição à nossa compreensão de suas categorias.