CIÊNCIA POUCA É BOBAGEM
Este é um livro-resposta. Para quem se pergunta se a psicanálise é ciência; para quem afirma, sem apresentar evidências, que a psicanálise é bobagem; para quem se interessa pelos processos de produção e validação de conhecimento. Em tempos de “soluções mágicas” de todo tipo, e também de respostas levianas contra essas soluções, os psicanalistas Christian Dunker e Gilson Iannini propõem outro movimento: analisar, com o cuidado que a discussão exige, a complexa relação da psicanálise com a ciência, uma relação que é tão antiga quanto a própria psicanálise. Os autores dialogam com críticos contundentes da psicanálise, como Wittgenstein, Popper e Grünbaum, e também combatem os ataques infundados que ela vem sofrendo nos últimos anos, explicitando a diferença entre esses dois tipos de contestação do campo. Lançando mão de abordagens variadas – desde reflexões sobre o fazer psicanalítico emprestadas de textos de Freud e Lacan, posicionamentos históricos de defesa da prática da psicanálise até descrições de experimentos randomizados com duplo-cego e placebo –, Iannini e Dunker constroem um argumento original a favor do pensamento autorreflexivo e do debate intelectual sério. Assim, os psicanalistas são convidados a levar a sério sua atuação e a produção intelectual resultante de seu trabalho clínico e teórico, e os cientistas e divulgadores científicos são convocados a considerar o importante papel que eles mesmos desempenham no mundo atual e a olhar de forma crítica para o próprio discurso e fazer científico. Mais do que somente provar que psicanálise não é nenhuma bobagem, o livro oferece uma reflexão profunda de como se constrói o conhecimento psicanalítico em relação ao conhecimento científico. Defender a cientificidade da psicanálise é bom não apenas para a psicanálise, mas para a própria ciência. Quer dizer: defender a psicanálise é também defender a ciência. “A psicanálise pode ser caracterizada como uma ciência, dependendo das acepções de ciência e de psicanálise; como uma contraciência, no sentido de uma crítica fundamentos da ciência moderna; ou até mesmo de uma não ciência, ou seja, como uma prática clínica e uma psicologia profunda. Mas seria sobretudo desleal e pouco rigoroso colocá-la ao lado das pseudociências, como uma impostura, uma versão religiosa ou metafísica malsã, enganando pessoas e fraudando dados.”