CROSSROADS - 1ªED.(2011)
Crossroads acompanha quarenta anos de vida de um rematado perdedor: um escritor que não consegue escrever, um revolucionário sem bandeira, um amante sem amor. Desde as barricadas inconformistas dos áureos 60 até o mingau pós-tudo dos 2000 — passando pelo chumbo dos 70, “o prenúncio da merda” dos 80 e yuppismo infantiloide dos 90 —, seu anti-herói sem nome atravessa um mundo de desilusões, levando uma suspeita por ritornello: a de ter feito negócio com o Cujo em alguma encruzilhada do passado. Mas, diferentemente do bluseiro Robert Johnson, que teria vendido a alma em troca do gênio musical, como supostamente narra em seu “Cross Roads Blues”, o looser desta história não sabe o que recebeu do Maligno, embora confirme a cada passo o que lhe entregou: a felicidade no amor — e muito provavelmente a própria lembrança da transação.
Sem amor, nem memória, nem ciência do eventual dom — mas também sem o cinismo para “se dar bem” e “chegar lá” dispensando tudo isso —, o protagonista se esmolamba à cata de algum sentido para a própria existência. No percurso, passa em revista os sonhos e pesadelos de várias gerações, homenageando os caídos e fazendo graça com a própria desgraça, ao som e no ritmo do melhor blues & rock. Ao final, a resposta se oferece como uma nova indagação, com potência para catapultar todos os questionamentos para outro plano.
A narrativa de Lonza joga brilhantemente com as pautas do jornalismo gonzo e da moderna autoficção. Com algumas matreiras pinceladas autobiográficas, levará mais de um leitor a enxergar nesse quadro de mestre uma impiedosa autocaricatura. Para além da tentação charadística de detectar onde se blefa contando mentiras como se fossem verdades, e onde se faz exatamente o contrário.