Daseinsanálise - Fenomenologia e Psicanálise
Daseinsanálise não é simplesmente uma entre outras abordagens surgidas no interior do assim chamado período de ouro da psicologia e da psiquiatria na primeira metade do século XX. Ela também não se encontra apenas no leque de escolhas feitas pelos profissionais de psicologia em geral depois da formação universitária. As coisas não se dão aqui como se alguém pudesse escolher entre neuropsicologia, psicanálise, psicologia existencial-humanista, gestalt-terapia e... Daseinsanálise entre outras. Ao contrário, a Daseinsanálise nasce da percepção de que não é possível iniciar de maneira consistente uma ciência voltada para o tratamento e o cuidado do ente humano sem que se pergunte primeiro sobre o modo de ser do ente em questão. Neste sentido, Daseinsanálise não é somente psicologia, mas metapsicologia.
Neste contexto, a palavra Dasein desponta como uma noção central. Partindo das repercussões do projeto fenomenológico husserliano sobre a análise dos conteúdos propriamente ditos de nossas vivências e acompanhando a virada hermenêutica pela qual passa tal projeto com o pensamento de Martin Heidegger, a Daseinsanálise se constrói a partir da tentativa de Heidegger de descrever o caráter desse ente que só possui determinações ontológicas a partir do horizonte histórico no qual ele se acha desde o princípio inserido.
Descrever o ser do homem por meio da expressão ser-aí (Da-sein) não é outra coisa senão explicitar o fato de o homem ser esse ente que só conquista modos de ser a partir do aí no qual ele se vê jogado. Nas palavras do próprio Heidegger em Ser e tempo: “Existindo, o ser-aí é o seu aí”. A questão, com isso, passa a ser: quais são as repercussões dessa descrição para a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise? Responder a essa questão se confunde, então, com apresentar cada um dos passos da Daseinsanálise desde Karl Jaspers e Eugène Minkowski, passando por Ludwig Binswanger e Medard Boss e chegando a figuras como Wolfgang Blankenburt, Kimura Bin e Arthur Tatossian.
Essa apresentação é o que o leitor encontrará aqui minuciosamente realizado, de tal modo que é possível afirmar que essa é uma introdução definitiva à ligação entre Heidegger e a psicologia em geral e que esse livro possui um lugar decisivo para todos que pretendem se embrenhar em uma reflexão sobre a possibilidade de uma psicologia com bases ontológico-existenciais, possibilidade tanto mais urgente em um mundo marcado pela associação entre cura e funcionalidade.