Já em seu título Desafios atuais das práticas em hospitais e nas instituições de saúde assume abertamente a tarefa de colocar em questão as práticas no campo da saúde. Os textos recobrem múltiplos desdobramentos dessa problemática central que consiste em interrogar os fundamentos que constituem uma prática clínica enquanto tal e não como meros dispositivos ideológicos de imposição de critérios de desordem e de restituição da ordem, segundo ideais sociais tidos como universais e autoevidentes. Seus autores, com diferentes olhares e perspectivas teóricas, se ocupam com generosidade de questões por vezes abissais, como os efeitos em pacientes e clínicos da confrontação com a morte e com a fatuidade da existência; a constatação da persistência de automatismos, da burocratização acrítica e da sedimentação sem reflexão das práticas clínicas e institucionais, bem como a implantação insidiosa e aparentemente sem agentes de uma cumplicidade no anonimato . Todos os trabalhos são perpassados de maneira mais ou menos direta por interrogações tendo como pano de fundo a reflexão sobre as políticas públicas de saúde, sobre a medicalização do campo do cuidado, em especial com crianças e sobre os desafios administrativos e de pesquisa que tais problemas impõem. O livro que o leitor tem diante de si não se contenta em apresentar e comentar os desafios atuais das práticas no campo da saúde. Ele é em si mesmo um desafio lançado ao leitor e à cultura, convocando-o a aportar a sua própria contribuição a esse debate. Mario Eduardo Costa Pereira Psicanalista, psiquiatra. Professor titular de Psicopatologia Clínica pelo Laboratoire de Psychopathologie Clinique et Psychanalyse da Aix-Marseille Université (França). Livre-Docente em Psicopatologia do Depto de Psiquiatria da FCM/UNICAMP, onde dirige o Laboratório de Psicopatologia- Sujeito e Singularidade (LaPSuS).