DESFORRA ( POESIA DESUNIDA 1988-2023) ANELITO DE OLIVEIRA
Desforra poesia desunida 1988|2023, de Anelito de Oliveira, apresenta 35 anos de produção caracterizada pela conflitividade. Livro tem sido recebido com grande entusiasmo por público e crítica
Não é mais um livro de um dos autores mais profícuos da geração que começou a trilhar o caminho da literatura no final da década de 1980 ao ritmo da redemocratização do país e prosseguiu, ao longo das últimas três décadas, em meio às turbulências tantas que culminaram no fascismo bolsonarista.
Desforra / poesia desunida 1988-2023 apresenta reedição de todos os livros, plaquetes e trabalhos esparsos publicados por Anelito de Oliveira no âmbito da poesia a partir de 1991, bem como material que teve publicização apenas em suportes inusitados, como display de ônibus coletivo urbano, ou em leituras performativas em lugares diversos, além de uma gama de inéditos.
O alentado volume de 774 páginas, editado pela Literíssima em parceria com a Orobó Edições, disponibiliza para o leitor cerca de 70% da produção do autor, recorte que justifica em parte o subtítulo: o conteúdo foi arranjado pelo próprio Oliveira a partir de um critério de “desunião”, de conflitividade, de desarmonia.
“Escrevi sempre, desde o início, o conflito, o agon, mas não porque o quis, mas porque nunca pude escrever senão isso”, afirma o autor em Nota que assina na abertura de Desforra. O conflito, a desunião, tem sua motivação na vida social, precisamente nos inúmeros obstáculos impostos pelo racismo às pessoas negras por toda parte.
O livro traz nada menos que 41 momentos de uma produção poética ininterrupta, a partir dos quais o leitor pode compreender o nascimento, adensamento, complexificação, esfacelamento e, finalmente, desencantamento de uma linguagem, um percurso que constitui, nos limites da lírica, uma narrativa prismática dos últimos 35 anos.
Ainda conforme a Nota do Autor, Desforra é o fim, desde o começo, de uma experiência do impossível, de dizer o que não se pode dizer, de calar o que nos obrigam a falar, de dar a ver, sempre na fronteira entre o ético e o estético, uma vida social preta”.
Com o livro, que estava previsto para sair em 2020, quando o autor completou 50 anos, mas não o foi em razão da Pandemia e do escancaramento do fascismo com o seu engrediente racista no país, Anelito de Oliveira dá por encerrada sua dedicação programática à produção de poesia.
Anelito de Oliveira nasceu no sertão mineiro em 1970. Doutor em Literatura brasileira pela Usp, Pós-Doutor em Teoria Literária pela Unicamp, Mestre e Graduado em Letras pela UFMG, onde atualmente é Professor Visitante de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Editou o Suplemento Literário de Minas Gerais (1999-2003) e a Revista Orobó. Na espaço digital, criou e edita a revista Sphera Habitações do Encantado, o Podcast Fanon Blues, o Canal Diário Negro e o Canal Revista Sphera, onde corrdena o programa A partilha do poético. Publicou - como autor, co-autor, editor ou organizador - dezenas de livros em gêneros discursivos diversos, além de trabalhos científicos, culturais e literários em periódicos brasileiros e estrangeiros.