Despatologizar o sujeito trans e outros ensaios lacanianos
Já dizia o poeta Vinicius de Moraes que “A vida é a arte do encontro”. Assim é este livro: a expressão desses bons encontros de Fabián Fajnwaks pelo Brasil e pelo mundo. Encontros que se fazem na pluralidade de sua conversação por meio de inúmeras conferências e escritos, em várias línguas, sempre abordando temas contemporâneos: o trans, o gênero, as nominações, o excesso, a segregação, a poesia... Poderíamos dizer que este livro é uma espécie de biografema do autor, uma abertura ao múltiplo em eterna construção. Coube a nós o privilégio de recolher “essas letras” espalhadas pelo mundo e juntá-las neste livro, nesta obra que nos parece se apresentar saborosa ao leitor: um saber com sabor, como Roland Barthes trabalha em O prazer do texto, onde se renuncia à pretensão de uma leitura sistematizada em favor da contingência de um encontro prazeroso com o texto, sendo cada escrita singular em sua diferença, bem como cada leitura. Assim, o livro é também um convite ao que há de inquietante no ato de ler, já que a leitura provoca um efeito de vacilação no leitor na medida em que os signos não são evidentes. Se navegar na leitura é preciso, não será somente em águas calmas, mas sim conduzidos por uma inquietação, por uma questão que pode surgir de cada “linha sub-reptícia” presente nos textos. A palavra, como uma isca, fisga o que não é só palavra para trazer à luz a interpretação analítica, na medida em que essa interpretação pode descompletar o que se apresenta hoje de forma compacta, sem interstício, sem fissura nos variados semblantes discursivos contemporâneos que resultam na proliferação de uma multiplicidade de nomeações de identidades, como as sexuais, por exemplo. Ao contrário do sufocamento em predicações que podem reduzir o sujeito a uma multiplicidade de classificações particulares, somos chamados, na leitura, a nos deparar com as elaborações baseadas na psicanálise lacaniana sobre o real do gozo sexual que não se reduz a nenhum predicado, o que permite introduzir um “ponto de fuga, um ponto cego”, ali onde parecia não haver espaço para invenção. Uma vez o livro em mãos, a aposta é de cada um!
Desfrutem da leitura, sempre singular!
Aline Mendes
Carla Capanema
Márcia Rosa
Nilsander Gonçalves