Diário da catástrofe brasileira: Ano I – O inimaginável foi eleito

Diário da catástrofe brasileira: Ano I – O inimaginável foi eleito

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Ainda na noite de 28 de outubro de 2018 — quando 57 mihões, 796 mil e 986 brasileiros fizeram o inimaginável e depositara na urna o voto em um candidato que não tinha nenhum programa de governo organizado, havia feito declarações racistas, machistas e homofóbicas e elogiara abertamente torturadores e a ditadura militar —, o escritor Ricardo Lísias começou este Diário da catástrofe brasileira, que, obsessivamente, não largou até hoje.

Pouco mais de um ano depois, a polícia tornou-se ainda mais violenta, casos de censura voltaram às artes, o Brasil virou motivo de piada no mundo, o desmatamento atingiu índices mais do que alarmantes, centenas de agrotó­xicos foram liberados para uso, a população é estimulada a não acreditar em dados científicos, a agressão à imprensa por parte do governo é corriqueira e a economia, vejam só, continua em crise.

O leitor encontrará aqui uma análise reveladora do material de campanha que circulou ainda antes de 2018 e que até agora não foi bem avaliado. Da mesma maneira, tanto a Operação Lava Jato quanto seu principal condutor, o ex-ministro Sérgio Moro, são vistos de forma original e surpreendente. O texto alterna momentos de assombro, outros de indignação, sem perder em nenhum momento a coerência e a necessidade (que ele parece entender como uma obrigação) de achar sentido para o sucesso daquele que foi, nas palavras de Lísias, "o pior candidato da história eleitoral brasileira".

Não há nenhuma condescendência: se sobram muitas críticas à imprensa, por exemplo, Lísias avalia seu próprio comportamento, e o de seu meio, ao mesmo tempo em que desenvolve hipóteses sobre arte, sociedade e cultura. As páginas do Diário da catástrofe brasileira se desenvolvem sem que as principais conjunções adversativas sejam usadas. Para o autor, definitivamente, passou da hora do mas, porém, todavia, no entanto e contudo. E este é só um exemplo da originalidade deste livro às vezes assustador, outras, engraçado, e sempre ousado e esclarecedor.

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