DIÁRIO DE FRANZ KAFKA 1909-1912

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Franz Kafka (1883-1924) começou a registrar um diário em 1909, aos vinte e seis anos, e prosseguiu até 1923, meses antes de morrer. Pela primeira vez seus diários são apresentados ao leitor brasileiro em tradução direta do alemão e numa edição integral, baseada na mais moderna edição crítica.

Este primeiro volume traz as anotações de 1909 a 1912 – justamente o período inicial da carreira profissional de Kafka, tanto na companhia de seguros quanto na literatura (em 1908 ele havia publicado seus primeiros textos e desde então nutria grandes ambições literárias). O que emerge das páginas é a quintessência do gênio que se descortinará, mais tarde, em seus perturbadores e perturbados protagonistas, de Gregor Samsa, de A metamorfose, a K., de O processo.

Vemos aqui um Kafka em verdadeira autoanálise, refletindo sobre a educação recebida, seu eterno estranhamento diante de tudo, sua relação conflituosa com o mundo do trabalho, reflexões sobre costumes judaicos, expressões de desconforto com o próprio corpo (numa neurose quase hipocondríaca), seus sonhos, as angústias com sua vida de solteiro, sua persistente solidão – mesmo quando conta sobre incursões na vida mundana, em círculos literários ou sociais –, suas muitas leituras e autores admirados.

Os diários também nos permitem acompanhar o desenvolvimento do próprio trabalho de escritor; Kafka não fazia anotações todos os dias, e nem as fazia seguindo estritamente uma ordem cronológica (a presente edição preserva a apresentação tal qual nos cadernos dos diários): algumas entradas são sobre sua vida, outras, narrativas quase acabadas (como os embriões dos contos “Infelicidade” e “O foguista”). O nível de elaboração estilística e literária é alto, e não por acaso as partes mais íntimas dos diários têm forma lapidar, quase aforísticas (“precisaria procurar durante um ano até encontrar um sentimento verdadeiro em mim”).

Nessa busca por um estilo de escrita, acompanhamos o autor até 1912, o ano da virada: ao final deste ele escreveria o conto “O veredicto” e aquela que é sua obra mais difundida e mais emblemática: A metamorfose. Tem-se aí, portanto, a gestação do escritor, a larva ainda no casulo, antes de eclodir. Vemos em plena preparação o espírito angustiado do autor que materializaria na literatura mundial o embate entre o sistema avassalador e o indivíduo acossado.

Nenhum outro autor teve sua vida íntima tão associada à sua obra, e vice-versa; estes diários são preciosos testemunhos desse laço estreito. Em nenhum outro lugar Kafka pode ser vivenciado de uma maneira tão visceral.