Distância de resgate
No interior rural da Argentina, Amanda passa férias com sua filha Nina. Em um povoado próximo, elas conhecem Carla, cujo filho, David, menino de comportamento estranho, foi acometido por uma doença misteriosa que se espalha inexplicavelmente pela região. Haveria uma contaminação do ar ou da água? Ou a enfermidade seria o sinal difuso de um perigo ainda maior e inimaginável? Pouco a pouco, o relato de Carla se entrelaça à consciência de Amanda, revelando a ameaça que paira sobre elas, seus filhos e os demais. Composto inteiramente de diálogos, Distância de resgate é o primeiro romance de Samanta Schweblin e uma exitosa experimentação do suspense psicológico na forma de narrativa longa. Como toda grande obra literária, é aberto a diversas interpretações, ora adensando a verossimilhança, ora se esticando rumo ao sobrenatural. Além de evocar reflexões ecológicas — pois suspeita-se de um veneno que “mães aspiraram no ar” ou “que comeram ou tocaram” e que deixa sequelas físicas e cognitivas —, Distância de resgate também explora de modo literário o lado sombrio da maternidade. Juntas, Amanda e Carla se permitem questionar a constância do amor materno, e descobrem que ainda que haja equilíbrio entre proteção e respeito à autonomia, ainda que se sufoque a própria subjetividade, nem a mais vigilante das mães é capaz de poupar os filhos dos perigos do mundo real. Nesta perturbadora radiografia do medo, Schweblin cria uma atmosfera de ameaça que mantém firme a tensão entre realidade e pesadelo por meio de uma linguagem magnética e obsessiva, que busca traduzir o exato momento em que tudo se transforma: as férias se convertem num calvário e, em lugar de salvar, as relações amorosas condenam.