Doppelgänger - Uma viagem através do Mundo-Espelho

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Doppelgänger: palavra de origem alemã que significa “duplo ambulante”. Refere-se à ideia de que cada indivíduo tem o seu sósia, muitas vezes uma cópia maligna, circulando por aí. É com esse termo que a canadense Naomi Klein identifica a “Outra Naomi”, uma jornalista dos Estados Unidos com quem passa a ser confundida. O problema é que, enquanto Klein é uma das vozes mais respeitadas entre intelectuais de esquerda no mundo todo, sua doppelgänger se torna, em plena pandemia, assumida negacionista, antivacina e difusora de teorias da conspiração das mais variadas, com ampla interlocução nos canais da extrema direita.

Em Doppelgänger – uma viagem através do Mundo-Espelho, seu livro mais recente, a escritora e jornalista canadense Naomi Klein faz uma investigação de fôlego no submundo online da desinformação e das teorias conspiratórias. Autora de vários best-sellers e traduzida em mais de trinta países, ela analisa como funciona essa realidade paralela, um mundo invertido no qual as pessoas embarcam em uma teia de supostas verdades facilmente contestáveis e assumem discursos fanáticos, geralmente ligados à extrema-direita, repletos de violência e paranoia, fazendo a polarização das redes sociais se expandir para diversas outras esferas da sociedade.

Intelectual de esquerda e anticapitalista, como se apresenta, Naomi Klein é ativista na defesa das causas sociais e climáticas. No livro, ela usa, como ponto de partida de sua vasta análise, a confusão existente entre seu nome e o de seu “duplo” – ou doppelgänger –, Naomi Wolf. Jornalista e autora de uma obra relevante para o feminismo nos anos 1990, essa “outra Naomi” transformou-se, nos últimos anos, em uma das vozes inspiradoras da extrema-direita dos Estados Unidos. Difusora de teorias da conspiração das mais variadas, durante a pandemia mundial da covid Wolf assumiu-se negacionista, fez intensas campanhas antivacina, a ponto de acabar banida de redes sociais.

Se as duas Naomis partilham do mesmo nome, têm sobrenomes de origem judaica e até maridos que atuam na mesma área, com nome igualmente parecidos, elas não poderiam ser mais diferentes. É por isso que Klein passou do estágio de, em um primeiro momento, ignorar e até se divertir com a confusão entre ela e a sósia, até começar a obsessivamente observá-la, ouvindo horas e horas do podcast de Steve Bannon, do qual Wolf participava com frequência. A partir desse mergulho, que ela compara à queda no buraco de Alice no país das maravilhas, ela discorre sobre esse mundo-espelho, no qual “a conspiração é realidade, ficção é fato, esquerda é direita e você pode até não reconhecer a si mesmo”.

A “cultura doppelgänger” é o ângulo através do qual a autora estabelece sua envolvente narrativa e entrelaça temas aparentemente tão diversos como a cultura digital e a luta antirracista, os esquecidos do capitalismo e as verdadeiras conspirações que levaram a golpes de Estado, a covid, as vacinas e um relato pessoal sobre seu filho neuroatípico, suas origens judias e o conflito Israel-Palestina ao longo dos anos, a postura da esquerda diante do avanço mundial da extrema-direita, o surgimento do nazismo e os genocídios históricos ligados à colonização das Américas e da África, a fúria beligerante que assola várias regiões do mundo hoje.

Doppelgänger é o nono livro escrito por Klein, e também o mais pessoal. Após o lançamento, ele entrou imediatamente na lista dos mais vendidos do New York Times, sucesso que se repetiu nos mais de dez países em que já foi publicado. No final de 2023 entrou em listas dos melhores livros lançados no ano pelos críticos de jornais como New York Times e The Guardian. Em 2024, ganhou o prestigioso Women's Prize de Não Ficção, o Pacific Northwest Book Award, e foi finalista do Writer’s Prize na Inglaterra.

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