EM ALTO MAR
Considerado o primeiro romance da emigração italiana, Em Alto-Mar, de Edmondo De Amicis (1846-1908), é finalmente lançado no Brasil, onde permaneceu inédito até o presente ano de 2017. Lançado na Itália em 1889, o livro teve dez edições em apenas duas semanas: um verdadeiro best-seller. Em Alto-Mar é o relato da travessia que De Amicis fez do porto italiano de Gênova ao de Montevidéu, em 1884. Toda a narrativa se passa a bordo do navio Galileo, ao longo da viagem de três semanas. Nada menos que 1.600 emigrantes italianos viajavam na terceira classe. A grande maioria tinha como destino a Argentina, e da capital uruguaia seria transportada para Buenos Aires em pequenas embarcações a vapor através do rio da Prata. Havia ainda 70 passageiros distribuídos entre a segunda e a primeira classe - entre os quais o autor. O navio é um microcosmo da sociedade italiana da época, clivada por antagonismos, separada por uma miríade de dialetos e pela escassa difusão da língua nacional. Saltam aos olhos os ressentimentos, a raiva e o rancor dos emigrantes com relação às elites que lideraram a união territorial e política do país que hoje conhecemos como Itália. O processo de unifi cação, concluído em 1861, marginalizou uma vasta camada da população e abriu uma ferida na sociedade. Esta edição traz ainda dois relatos de Edmondo De Amicis sobre a sua estadia no Rio de Janeiro durante a escala do navio que o transportou de volta à Itália.
No navio, um microcosmo da sociedade italiana da época, poderemos escutar as histórias do capitão, deliciar-nos com a sensualidade de uma senhora da primeira classe, acompanhar com emoção o nascimento de uma criança, sentir o pavor que se dissemina a bordo com a morte de um passageiro. A chegada de uma nova vida e a partida de outra são dois acontecimentos simbólicos da travessia: o primeiro representa a esperança; o segundo, o medo de não atingir o destino e ter o próprio corpo atirado ao mar, sem direito a uma sepultura. Uma perspectiva que aterrorizava aqueles camponeses extremamente ligados à terra e à religiosidade católica. Muitos jamais haviam visto o mar e tinham um medo espantoso da travessia. O fantasma de uma tempestade - tema de um capítulo - rondava a todos. Os naufrágios estavam na ordem do dia. As epidemias a bordo também. Saltam aos olhos os ressentimentos e a raiva dos emigrantes com relação às elites que lideraram o processo de união territorial e política do país que hoje conhecemos como Itália. Concluída em 1861, a unificação marginalizou uma vasta camada da população e abriu uma ferida na sociedade. Traz ainda ilustrações de Arnaldo Ferraguti e a foto do navio em que o autor fez a travessia da Itália para a América do Sul. Com tradução de Adriana Marcolini, em coedição com o Istituto Italiano di Cultura de São Paulo e com o apoio do Programa de Ação Cultural (Proac), da Secretaria da Cultura do Governo do Estado de São Paulo.