Emmanuel Lévinas: Ensaio e entrevistas
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François Poirié, autor deste verdadeiro mapeamento exegético e filosófico da obra e do pensamento de Emmanuel Lévinas, pontuou os relevos deste universo com uma significativa seleção de escritos e entrevistas do filósofo, que consubstanciam textualmente a proposta interpretativa do estudo introdutório. Assim, abrem-se para a leitura interessada pelo menos três vias de acesso às reflexões e concepções do pensador: a da dimensão do ensaio crítico desenvolvido por Poirié, levando o leitor a defrontar-se com as possibilidades suscitadas por um discurso de natureza dialógica e dialética, que se coloca como condição inerente à retomada e ao reexame contínuo de suas premissas e fundamentos, tanto quanto de suas decorrências e resultantes, sem nesse empenho exploratório jamais abdicar de seu télos ético; a do âmbito dos textos do próprio filósofo, em que o leitor se depara com os elementos da densidade alcançada por uma indagação filosófica engajada mais na sondagem do que se esboça existencial e fenomenologicamente para além do imediatismo lógico-ontológico, do que na defesa de assertivas doutrinárias; e a das entrevistas, que permitem ao leitor, ao debruçar-se sobre os temas em pauta e postos à prova pela maiêutica levinasiana, testemunhar o próprio ato de geração e de nascimento dos filosofemas, cujo ponto de mira está no conhecimento da vivência e na vivência do conhecimento.
Como diz o próprio Lévinas, o saber filosófico não se destila a partir de uma pura filtragem do logos, mas sim de tudo aquilo que o sujeito pensante, para além do cartesianismo, carrega consigo como experiência “pré-filosófica”. Quer dizer, no seu caso, especificamente, trata-se do rico e variado substrato espiritual, literário, cultural, religioso e político, que sua historicidade e a de seu judaísmo colheram no mundo de sua existência e do que para um e outro, assim como para a humanidade, representaram as terríveis catástrofes e apocalípticas provações das guerras mundiais, das revoluções e dos sofrimentos que talharam e vêm talhando a carne e as feições do homem contemporâneo. Compreender tudo isso e a sua essência leva, a seu ver, e é disto que sua obra trata – e este livro da coleção Debates enfatiza –, à reinstalação da ética como quintessência do “humano muito humano” em ruptura frontal com o “egoísmo ontológico”, que reinou até há bem pouco incontestado na filosofia ocidental.
[J. Guinsburg e Marcio H. de Godoy]