EU TAMBÉM
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Ponha sua orelha nesta orelha. Isso mesmo. Cole o seu ouvido neste livro. Venha escutar o Amarildo Anzolin fazendo poesia.Você nunca viu, ouviu nada igual et cetera e tal. Quem me apresentou ao Anzolin foi o poeta Ricardo Corona. Peguei carona. Desculpe o trocadilho sem graça. Mas palavra puxa palavra. Toda palavra lavra. Anzolin sabe disso. Anzolin pesca. Anzolin naufraga. Vai profundo. É impressionante a voz da poesia do cara. Ou a poesia da voz do cara. Explico: este livro Eu também não é apenas para ler. É para ver. Ouvir e reouvir. Pulsar. Este livro, que também é CD, faz parte, a saber, da coleção "Poesia para ouvir". Nada a ver com letra de música apenas. Nada a ver com poema musicado apenas. Anzolin faz, sim, uma das melhores poesias sonoras do país, posso dizer. Traz os barulhos que a palavra fala. Os gritos que a gente trata de calar. Calo na voz, sei lá. Algo assim, como "o som seco do soco", enfim. Ai, ai de mim. Por exemplo, achei bem bonito, aqui, um sanguinário poema chamado "Briga", em que o poeta recita dando murros, boxeando, resfolegando no ringue. Bárbaro! Coisa pra deixar a poesia fora do lugar, entende? Quem disse que verso é pra ficar parado? É preciso desempoeirá-lo do livro. Sacudi-lo. Cara, como gosto desse tipo de coisa. Já havia me deliciado com o Ladrão de fogo, trabalho do também curitibano Ricardo Corona. Repito: peguei carona nesse tipo de poesia e música. Entrei nessa dança. Fiquei fã do Anzolin. Lindo, Anzolin. Que diz coisas do tipo: "os passarinhos fazem sexo perto do beijo das girafas". Ou que faz um poema para a máquina de lavar roupas. Contorcionismos na água. Ruídos que só um artista dos bons é capaz de produzir: "na máquina de lavar/ as roupas se movem/ sem gestos sem braços/ sem pernas sem passos/ não caminham/ não se deitam/ na lavagem/ o suor a raiva a culpa o desejo/ o amor/ vai tudo embora/ não sentem/ mais nada/ sem o corpo". Haja fôlego. Tanta coisa boa. Quando Anzolin abre a boca, apresenta a "voz em vez de mim". Diz ele que queria ter: "a voz de leonard cohen/ de elvis/ costelo/ de arnaldo antunes". Eu, não. Eu queria ter a voz de Amarildo Anzolin. Para você não resistir. Pôr a orelha neste livro e me ouvir. Marca: EDITORA MEDUSA