Ficção e confissão
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Ficção e confissão

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O ensaio principal e mais extenso deste livro foi pu­blicado em 1955 como introdução geral à obra de Graciliano Ramos no primeiro volume, Caetés, e pressupõe que há nela uma pesquisa progressiva da perso­nalidade, quase sempre com manipulação ficcional de elementos autobiográficos, o que levou o romancista a ir passando para o relato direto da sua própria vida. O trânsito da ficção à confissão é evidente em Infância. Em todas as etapas dessa pesquisa angustiada, expressa por meio de uma escrita seca e admirável, transparece o negativismo de um escritor sem complacência consigo e com os outros, avesso às amenidades que cos­tumam atrair o leitor.

O ensaio seguinte, Os bichos do subterrâneo, é uma apresentação de cunho expositivo da obra de Graciliano, procurando fazer justiça a Angústia, que sofrera restrições no ensaio anterior, enquanto Memórias do cárcere, talvez supervalorizado nele, é visto como menos valioso que a obra ficcional. Os dois ensaios finais são exercícios sobre recepção das obras literárias. No aparecimento de Caetés abo­rda a “crítica local” de Maceió no momento da pu­blicação do livro, bem compreendido e bem ava­liado pelos intelectuais da cidade, os quais perceberam imediatamente a força do grande romancista que sur­gia. A propósito, Antonio Candido faz uma análise de ti­po pouco freqüente da capa de Santa Rosa, encarada como uma espécie de crítica visual.

O último ensaio, 50 anos de Vidas secas, se apóia em dois críticos da primeira hora, Almir de Andrade e, sobretudo, Lúcia Miguel Pereira, que viu com segurança os problemas de fatura, desde a natureza da composição por segmentos até a linguagem reduzida ao mínimo, como se tendesse ao silêncio. Este livro marca a posição do autor em face de um escritor que ele considera dos poucos mestres supremos da literatura brasileira, formando com Guimarães Rosa um contraponto fecundo, pois mostra que a nossa narrativa ficcional é capaz de criar, no mais alto nível, tanto obras lineares, de parcimônia extrema, quanto as que, no outro pólo, transfiguram o mundo pela riqueza verbal.

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