FILOCTETES
Filoctetes, companheiro de Héracles e herdeiro de seu arco, convocado para a expedição contra Troia, não completou a viagem, porque na Ilha de Tênedo foi picado no pé por uma serpente. A chaga extremamente dolorosa o fazia gritar e exalava um fedor insuportável, perturbando assim toda a tripulação. Persuadidos por Odisseu, os reis Agamêmnon e Menelau decidem abandoná-lo em Lemnos, que então era uma ilha deserta. Passados dez anos sem que a guerra tivesse fim, o adivinho troiano Heleno, feito prisioneiro, revela aos gregos que Troia somente seria conquistada com o arco e as flechas de Héracles, então em posse de Filoctetes. Incumbido de buscá-lo e trazê-lo a Troia por persuasão ou à força, Odisseu retorna à Ilha de Lemnos, acompanhado de Neoptólemo, filho de Aquiles. Sendo Odisseu um velho e odioso inimigo, o jovem Neoptólemo recebe a missão de convencer Filoctetes a participar da luta ao lado daqueles mesmos que outrora o abandonaram a sós sem compaixão. Amante da verdade e partidário do emprego da força, o jovem vive um tumultuoso conflito de consciência entre a aspiração à glória guerreira, o dever militar, a necessidade de se servir de dolo e as incontornáveis injunções de um oráculo revelador dos desígnios de Zeus. As surpreendentes reviravoltas em que se desdobra esse conflito interior constituem o entrecho da tragédia Filoctetes, apresentada neste sexto volume das obras completas de Sófocles em edição bilíngue na tradução poética de Jaa Torrano pelas editoras Ateliê e Mnema. Os ensaios analíticos e interpretativos bem como o glossário mitológico, elaborados pelo tradutor e por Beatriz de Paoli, conduzem o leitor pelas sendas de tempos míticos em que heróis profunda e extremamente humanos conviviam com Deuses tão próximos quanto imperscrutáveis. [José de Paula Ramos Jr.]