Frank Lloyd Wright - Princípio, espaço e reforma na arquitetura residencial
Este livro interessará a todos que fazem e estudam arquitetura por dois motivos. O primeiro, por resgatar os saberes da obra de Frank Lloyd Wright, muitos deles deixados de lado por outras concepções de modernidade. O segundo, pela qualidade de apresentá-los por meio de análises gráficas que serão apreciadas pelos arquitetos os quais, como se diz, costumeiramente, adoram ler figurinhas. O livro adota para análise a conhecida divisão da obra residencial de Wright em suas três fases: Prairie, Textile Blocks e Usonian Houses. Apresenta e caracteriza cada uma delas, após resgatar, em linhas gerais, os princípios da arquitetura orgânica, expondo seus princípios de integridade, continuidade e plasticidade, natureza dos materiais, gramática e simplicidade.
Entretanto, a investigação não se resume a um discurso erudito e rigoroso sobre as obras das casas. Vai muito além. Utiliza mecanismos gráficos que permitem desmontar os procedimentos de projeto de cada uma delas.
Refaz os projetos, elabora plantas, cortes e elevações de residências de cada período e as coloca em mesma escala, possibilitando comparações.
Constrói axonométricas dos pavimentos e produz estudos volumétricos de cada casa, permitindo o entendimento de suas espacialidades. Sobre as projeções e axonometrias realiza estudos gráficos dissecando suas características numa exposição dos seguintes aspectos: Setorização e grau de compartimentação, acessos e perímetros/ opacidade e transparência, campos visuais, circulação e espaços/ hierarquia- lareira e geometria-ritmo/equilíbrio e proporção/ relação planta-corte/coberturas.
Por meio destes desenhos e enfoques, realiza um verdadeiro atlas anatômico dos projetos, interpretando suas morfologias internas e externas. Os elaborados gráficos além de demonstrar relações incitam reflexões sobre os princípios orgânicos defendidos pelo arquiteto em seus livros e declarações.
Estes estudos, entretanto, ultrapassam uma mera anatomia das obras. Por tornarem visíveis os processos compositivos e as considerações e conceitos utilizados pelo arquiteto, não se situam como meras e sistemáticas ilustrações formais, mas se constituem em registros interpretativos de suas propostas e procedimentos projetuais.
Além da análise de cada obra e de cada fase, o livro traz uma análise comparativa que propicia a compreensão das continuidades e contrastes entre as três fases dos projetos residenciais.
Não é um livro só para ser lido, deve ser visto, sobretudo, com os olhos.
Rafael Perrone
Matéria | Folha Ilustrada | 19/04/11