INCONFISSÕES - FOTOBIOGRAFIA DE ANA CRISTINA CESAR
Ana Cristina Cesar, um dos nomes mais importantes da poesia brasileira ganha uma fotobiografia organizada por Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura do IMS. Para compor o perfil visual da poeta, além das fotografias do seu acervo, sob a guarda do IMS, e de acervos pessoais, Ferraz convidou amigos que pudessem escrever sobre Ana Cristina a partir de suas memórias afetivas. Incluiu também pessoas que nunca a conheceram pessoalmente, mas foram tocadas por sua obra de alguma maneira. A lista inclui nomes como- Armando Freitas Filho, Heloisa Buarque de Hollanda, Clara de Andrade Alvim, Flavio Cruz Lenz Cesar, Laura Liuzzi, Alice Sant’Anna, Leonardo Gandolfi, entre outros. Ana Cristina destacou-se na década de 1970 com uma poesia intimista, marcada pela coloquialidade, e com talento para diversas vertentes da atividade intelectual – foi também tradutora e crítica literária. Seu gosto pela fotografia se parece com seu apreço pelo diário e pela correspondência. Para Ferraz, ela parecia gostar de ser fotografada, observando regras, obedecendo ao fotógrafo, propondo novos ângulos, elaborando poses e exigindo de si mesma uma entrega ativa ao ser fotografada. O livro inclui fotografias de infância, dos amigos, do tempo em que viveu no exterior, imagens do seu último ano de vida, além de manuscritos, desenhos e outros materiais do seu acervo. O organizador reconhece, entretanto, que esta é uma fotobiografia incompleta, já que um perfil é sempre parcial e feito de escolhas. Toda fotobiografia dá-se assim, aos saltos- faltam imagens de eventos que seriam importantes, enquanto momentos sem relevância aparente fo¬ram registrados. No arranjo, conta-se com o que já foi feito, com um acervo constituído por muitos acasos- haver ou não uma máquina fotográfica ao alcance dos olhos e dedos; o desejo de fotografar; o fastio de fazê-lo; a pre¬sença ou não de luz; o flash ou a ausência dele. Uma série de contingências, enfim, que determinam antecipadamente o que adiante servirá, ou não, para as narrativas futuras , escreve Ferraz no texto de apresentação da publicação. Um dos destaques do livro é o texto de Heloisa Buarque de Holanda que acompanha uma fotografia feita em Búzios, nos anos 1970. Foi durante essa viagem que as duas montaram o livro Cenas de abril, o primeiro que a poeta estava publicando. Em outro momento do livro, Alice Sant’Anna, que não a conheceu pessoalmente, descreve uma imagem de uma das últimas viagens de Ana Cristina, especulando o que ela poderia ter dito sobre tal fotografia. A ideia da fotobiografia é contá-la ao contrário, do seu último ano de vida até seu primeiro registro na infância. Para Ferraz, a razão dessa tomada de partido tem a ver com algo muito pessoal- sinto-me sempre traído pelas fotobiografias que me cativam com o desenrolar da vida da personagem, e quando meu amor já está consolidado, empurram-me para fora com a irrupção final da morte .