IRA E TEMPO: ENSAIO POLITICO-PSICOLOGICO 1ªED. (2012)
No primeiro verso da Ilíada, marco primordial da cultura Ocidental, temos a palavra “ira”. No mundo grego, ela corresponde a trazer infortúnio – e portanto é valorizada, pois prenuncia os heróis. O que sucedeu para que relativamente pouco tempo depois a ira só fosse admitida em pouquíssimas situações? Como se desenvolve nas culturas tardias uma primeira expressão de justiça enquanto compensação para a “ira divina”? Através de que mecanismos os movimentos revolucionários da época moderna e do século XX se apresentam como um “banco mundial da ira”?
Uma característica inconfundível do pensamento e da escrita de Peter Sloterdijk é a inserção de questões de atualidade numa perspectiva de longa duração histórica. Assim ele concebe de forma original a atual condição humana, põe em evidência fundamentos inauditos e tece conexões inesperadas. Ele estabelece, nesse ensaio tão intelectualmente irreverente, a ira como um fator político-psicológico que move os acontecimentos desde o início da civilização até nossos tempos tão marcados por exacerbações políticas e exaltações terroristas — a ira como motor de processos históricos.
Mas como enfrentar o retorno da ira no início deste novo século? Sloterdijk já adianta uma resposta: “A grande política só acontece na forma de ações de equilíbrio. Exercer equilíbrio significa não esquivar os combates necessários e não provocar lutas supérfluas.” Significa também não dar por perdida a peleja contra as degenerescências políticas, a destruição do meio ambiente e a desmoralização generalizada”.