Lacan e a solução elegante na psicose
Nos anos 1950, Lacan falava de um inconsciente que era um discurso contínuo, e tal formulação não dizia respeito a um tempo que se prolonga, mas já se anunciava como uma antecipação do que viria a ser nomeado, posteriormente, como o real. À ideia de contínuo ele nos acrescenta suas elaborações sobre o simbólico, naquele momento tomado como infinito e rasgado – atravessado – pelo imaginário, interseção que resulta na constituição de um campo de realidade.
A partir do Seminário 2, O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise – tomando como inspiração o Além do princípio do prazer, texto fundamental de Freud –, Lacan estabelece um grafo, o Esquema L: uma topologia, como ele já nomeava, que vai percorrer seu ensino nos anos seguintes. De maneira não exatamente explícita, ele atravessa o campo matemático em suas elaborações, nas quais noções como infinito, razão, proporção e o Número de Ouro já estavam presentes, embora esta presença somente venha a ser explicitada bem posteriormente em seu ensino. Ao se ocupar das psicoses (particularmente da psicose de Schreber), seja em seu Seminário 3, As psicoses, seja em seu escrito De uma questão preliminar a todo tratamento possível das psicoses, Lacan encontra o fio condutor que já se revelava no segundo Seminário, e que lhe permitiu estabelecer um estatuto para o sujeito na psicose responsável por orientar os psicanalistas – em uma direção até então inédita – no que diz respeito ao acolhimento e à condução dos casos. O presente livro busca desvendar este trabalho, a solução elegante do próprio Lacan, que muitas vezes é bem distinta do que comumente se transmitiu a respeito de seu ensino sobre as psicoses.