MISHIMA OU A VISAO DO VAZIO - 1ªED.(2013)
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Autora do festejado Memórias de Adriano, a belga Marguerite Yourcenar (1903-1987) lança-se neste ensaio a um ousado desafio intercultural com o objetivo de tentar iluminar uma das mentes literárias que mais a fascinavam: o japonês Yukio Mishima. As motivações que cercam o suicídio do autor de Cores proibidas, afinal, sempre alimentaram a curiosidade de leitores mundo afora, teimando em perdurar como um mistério insondável, ao menos da perspectiva ocidental – mesmo que o próprio tenha tentado, ainda em vida e em vão, se justificar.
No dia 24 de novembro de 1970, Mishima prepara sua morte com minúcia. Está com 45 anos. Sua obra é ampla. Alcançou a glória mundial. Ele quer que seu suicídio obedeça em todos os aspectos aos rigores do rito exigido há séculos pela tradição de seu país, no meio em que decidiu viver religiosa, social, literária e politicamente: ele rasga o próprio ventre, antes de se fazer decapitar pela espada de um amigo. Morte a um só tempo terrível e exemplar, pois de certa forma une-o com profundidade ao vazio metafísico que fascinou o poeta e romancista japonês desde sua juventude.
Marguerite Yourcenar coloca todo seu talento literário e sua perspicácia a serviço dessa aventura humana, pela qual ela experimenta, de modo simultâneo e paradoxal, familiaridade e estranhamento. Sua análise se articula a partir de alguns momentos da vida e da obra de Mishima: a angústia e a atonia juvenis retratadas em Confissões de uma máscara; a tetralogia Mar da Fertilidade, espécie de “testamento literário” do autor; a decepção de Mishima ao ver o Prêmio Nobel que esperava ganhar ir para o mestre e amigo Yasunari Kawabata (que também morrerá, depois, por suicídio); os anos perturbados que o levaram a “reforjar” seu corpo; e, em segundo plano, a política, a ação e a obsessão com o seppuku; a morte, enfim