Murambi, o livro das ossadas - 1ªED. (2021)

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SINOPSE

Durante cem dias, entre abril e julho de 1994, um genocídio deixou 800 mil mortos em Ruanda. Quatro anos depois, o escritor senegalês Boubacar Boris Diop viajou ao país da África central para colher informações sobre esse período e escrever um livro. O resultado foi Murambi, o livro das ossadas, traduzido do original em francês por Monica Stahel. Conciso e sem sentimentalismos, o livro é um assombroso relato polifônico que provoca reações como a da escritora norte-americana Toni Morrison, prêmio Nobel de Literatura em 1993: “Esse romance é um milagre. Murambi, o livro das ossadas confirma minha convicção de que só a arte pode lidar com as consequências da destruição humana e traduzi-las em significado. Boris Diop, com uma beleza difícil, conseguiu fazer isso. Poderosamente”.

Cornelius Uvimana, professor de história, filho de mãe tútsi e pai hútu, volta a Ruanda depois de anos trabalhando no Djibouti, nordeste da África. É a primeira vez que retorna ao país natal depois do genocídio. Recebido por amigos de infância, Cornelius quer tentar entender exatamente o que aconteceu com sua família, da qual só restou um sobrevivente, o tio Siméon Habineza. Para isso, vai visitá-lo em sua cidade, Murambi, local onde ocorreu o massacre de cerca de 50 mil tútsis reunidos pelo prefeito e por um bispo numa escola técnica com a alegação de que seriam salvos por tropas francesas. Hoje a escola abriga um memorial com milhares de ossadas e corpos mumificados de vítimas do genocídio.

Na trama criada por Boris Diop, a história de Cornelius é contada em paralelo a outras, como a do dono da locadora de vídeo de Kigali que estranha a falta de movimento em seu estabelecimento no fatídico 6 de abril de 1994, data em que o avião que levava o presidente ruandês, o hútu Juvénal Habyarimana, foi derrubado. Aquele seria o estopim para a entrada em ação dos grupos de facínoras, incentivada e muitas vezes organizada por emissoras de rádio. Ao longo dos cem dias seguintes, pessoas de todas as idades foram mortas, torturadas, mutiladas, estupradas e contaminadas propositalmente com o vírus da aids. As atrocidades cometidas pelas milícias hútus contra os tútsis, grupos cuja rivalidade já havia sido explorada pelos colonizadores belgas e franceses, resultaram no último grande genocídio do século XX.

Murambi, o livro das ossadas reúne personagens que ora falam em primeira pessoa, ora são referidos em terceira. Muitos estiveram envolvidos direta ou indiretamente nos acontecimentos de 1994 e são distribuídos estrategicamente no espaço ficcional para dar uma visão complexa do genocídio, da história de Ruanda e da África, e da crueldade sem limites a que os seres humanos podem chegar. “É a história que quer sangue”, diz um dos personagens mais comprometidos com os massacres. No posfácio da edição da CARAMBAIA, um texto à altura do impacto do romance, Boris Diop revela sua estratégia de romancista: “O dever de memória é antes de tudo uma maneira de opor um projeto de vida ao projeto de aniquilamento dos genocidas.”

Murambi se originou de um projeto de residência literária. Uma dezena de escritores africanos foi chamada a fazer uma reflexão em palavras sobre o genocídio em Ruanda. Os autores permaneceram no país durante dois meses e produziram romances, diários, ensaios e poemas. O objetivo foi tentar romper o tabu, entre intelectuais africanos, de encarar os acontecimentos de 1994, que têm contornos inconcebíveis para quem não os presenciou.

 

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