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O amor de Mítia
Redescoberta pelo público ocidental nos últimos anos do século XX, a obra de Ivan Búnin (1870-1953) - Prêmio Nobel de Literatura em 1933 - é, por um lado, herdeira da grande prosa realista russa do século XIX, sobretudo a de Tolstói. Por outro, como autor dividido entre dois mundos (por discordar dos rumos da revolução bolchevique, Búnin exilou-se na França a partir de 1920), sua ficção conhecia de perto as fraturas abertas pela modernidade.
O amor de Mítia, novela publicada em 1925, penetra no drama da consciência de um rapaz que descobre, em toda a sua dolorosa intensidade, a força do desejo e do sentimento amoroso. Rainer Maria Rilke, que tinha predileção pela obra, observou que a vastidão do afeto que Mítia projeta sobre Kátia tem um caráter "profundamente espacial". De fato, a ação principia em São Petersburgo e logo se desloca para os campos de Oriol, paisagem cara ao autor desde a infância. É neste ponto que a natureza russa, descrita com precisão lírica estonteante, é elevada a suas maiores alturas. Por meio de sucessivas metamorfoses, ela anuncia as terríveis ambiguidades que definirão o destino do protagonista.
Esta narrativa exemplar, de um escritor também admirado por Thomas Mann, Vladímir Nabókov, André Gide e muitos outros, retorna agora ao leitor brasileiro em edição revista, na luminosa tradução de Boris Schnaiderman.
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