O Brasil no espectro de uma guerra híbrida: Militares, operações psicológicas e política em uma perspectiva etnográfica
O antropólogo Piero C. Leirner trata de um tema novo em sua obra, a assim chamada Guerra Híbrida, e o modo que ela está sendo realizada no Brasil.
Não se trata de uma “guerra clássica”, com fogo, mas de uma guerra que visa sobretudo a captura e neutralização de mentes. Suas “bombas” são antes de tudo informacionais, visam causar dissonâncias cognitivas e induzir as pessoas a vieses comportamentais: percepção, decisão e ação passam a trabalhar a favor de quem ataca. Seu objetivo último é o que se chama nas teorias desse tipo de guerra de uma “dominação de espectro total”. Essa ideia de “totalidade” está no âmago da Guerra Híbrida: não há mais a separação entre guerra e política, ou “tempo de guerra/tempo de paz”; todos passam a ser, voluntária ou involuntariamente, combatentes; e não se vê exatamente nem seu princípio, nem seu fim.
A hipótese central aqui levantada é que o Brasil foi, e é, um laboratório onde este modelo foi aplicado. O caso aqui estudado leva a um dos protagonistas principais desta forma de guerra e sua estratégia: um certo grupo de militares, operações psicológicas e o modo como isso se disseminou na política. O resultado, que vai muito além da eleição de 2018, é a dissonância generalizada que impera no Brasil hoje, que aqui segue um dos conceitos centrais da Guerra Híbrida – a cismogênese, ou seja, a criação de divisões sociais com o objetivo de impossibilidade qualquer pacto social.