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O Espaço das Palavras: de Mallarmé a Broodthaers
O fracasso como obra define o projeto inicial do artista belga Marcel Broodthaers, que até o início dos anos 1960 era um poeta sem leitores. Então, num gesto que iria transformá-lo depois no artista dos artistas, reuniu as cópias não vendidas de seu último livro num pequeno monumento feito de papel, gesso, bola de plástico e madeira. A obra é o testemunho de uma irônica “falha de comunicação”. Ao longo de sua curta carreira (pouco mais de uma década), Broodthaers não deixou, porém, de ser poeta nem se furtou a dialogar com poetas, como Stéphane Mallarmé, um dos pais do moderno poema verbovisual. Na instalação Exposition littéraire autor de Mallarmé (1969), ele ofereceu aos espectadores pelo menos quatro versões diferentes do poema Um lance de dados jamais abolirá o acaso: em três delas, substituiu as palavras por traços negros, e numa última, escreveu a giz palavras do poema em camisetas pretas exibidas em cabides. O filósofo francês Jacques Rancière, neste ensaio sempre instigante, analisa esse ato poético e plástico que gerou um novo poema espacial sem palavras (uma negação da obra original). Para ele, os traços negros, propostos por Broodthaers, não são nem poesia nem artes plásticas, mas um enigma, isto é, a arte do presente.
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