O FILHO DA MAE - 1ªED.(2009)
Em O filho da mãe, Bernardo Carvalho orquestra uma multiplicidade de vozes e pontos de vista, sem nunca perder de foco o motivo recorrente da maternidade, imbricado com o seu avesso: o sentimento de orfandade, de desamparo e desajuste, cuja representação mais crua é a guerra. “As mães têm mais a ver com a guerra do que imaginam”, diz a certa altura uma personagem. O livro, de certo modo, é a demonstração poética disso.
Embora o pano de fundo da história seja a segunda guerra da Tchetchênia, em 2003, Carvalho volta-se neste romance à figura da mãe, ao tema da maternidade. Serão as mães, moduladas e refratadas nas diversas histórias que aqui se entrelaçam, o fio condutor de uma trama singular, cujo resultado vem confirmar a posição do autor entre um dos mais originais e inovadores da literatura brasileira contemporânea.
São Petersburgo, cidade literária por excelência, é o epicentro da tragédia. Mas, como costuma acontecer nos livros de Bernardo Carvalho, a ação se expande vertiginosamente no tempo e no espaço. Do Oiapoque ao Nieva, de Grozni ao mar do Japão, chegam os estilhaços desses dramas nucleares de mães culpadas, filhos extraviados e pais tirânicos ou ausentes. Todas as personagens parecem, em alguma medida, estar fora do lugar, em famílias e países alheios — daí a força que adquire, no contexto, a figura monstruosa da quimera, aberração rejeitada pela natureza e pelo homem.
Romance de alta voltagem emocional, sem prejuízo do viés crítico e da complexidade da construção narrativa, O filho da mãe é um passo à frente na literatura sempre inquieta e surpreendente de Bernardo Carvalho.