O idiota do rebanho
José Carlos Reis é filósofo, historiador, foi professor da UFOP e de História da UFMG. Aventureiro nesse "romansaio", um texto experimental que procura sintetizar ensaio histórico-psicofilosófico e romance.
Um professor universitário, ao se aposentar, faz uma revisão de suas ideias, tentando superar a confusão; de sua vida profissional, tentando superar a sensação de fracasso; e de sua vida amorosa, tentando superar a decepção. Júlio Castelo Furtado é provocador, agressivo, politicamente incorreto, mas contundente em seu humor ácido. Ao refazer o seu caminho, sentado na "Quincas Boba, acha que sempre agiu e foi tratado como um "idiota", mas inventa um "bom sentido" para legitimar a sua idiotia. É a história de um amor interrompido na origem, que se conclui com o reencontro dos amantes na velhice, quando, após diálogos francos e sensíveis, finalmente, conseguem se separar. Mas será mesmo que conseguem?
Júlio estava feliz da vida. Tinha entregado a documentação exigida para a solicitação da aposentadoria ao Departamento de Pessoal da universidade, e disseram-lhe que não havia nenhuma pendência. O edital seria publicado no Diário Oficial dali a uns dois ou três meses. Não era para estar eufórico? Ele vinha dirigindo o seu jipe pelas ruas do campus, olhando para a cidade universitária, as pessoas, as árvores, os prédios, refletindo, falando sozinho, “o campus é um lugar lindo, tem uma bela paisagem nemorosa, estive aqui por mais de 30 anos e nunca tinha olhado assim pra esse lugar”. Era o seu local de trabalho e poucas vezes tinha se dirigido para lá com prazer. “Aqui, trabalhei, conheci pessoas, mas não deixo amigos, nem amores. O que será que vim fazer aqui? Certo, vim trabalhar, ‘correr a carreira’, mas será que deveria ter passado a vida toda fazendo isso? Será que fiz o que deveria ter feito na vida?”, interrogava-se, com uma ponta de arrependimento.
O autor alerta: esta é um obra de ficcão, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.