O imaginário trabalhista: Getulismo, PTB e cultura política popular 1954-1964
Jorge Ferreira apresenta em O imaginário trabalhista como, entre 1945 e 1964, os ideais representados pelo PTB de Getúlio Vargas deram força a mobilizações populares até então inéditas no Brasil. O período, muitas vezes entendido sob a égide do conceito de populismo, ganha aqui a intepretação renovada. Ao se afastar das caracterizações populistas, que contribuem para uma recepção negativa do período, o historiador destaca o trabalhismo como um projeto político que expressou os anseios dos trabalhadores, de sindicalistas e de amplos setores da população menos favorecida.
A primeira grande manifestação desse movimento ocorreu com o surgimento do movimento político e social conhecido como “queremismo”, em apoio à candidatura de Vargas à presidência da República. Com a vitória nas eleições de 1950, Vargas reforçou sua imagem como liderança social e trabalhista. Ao lado do presidente, seu ministro do Trabalho – um jovem político jovem chamado João Goulart – se destacava, refazendo as relações entre movimento sindical e o PTB.
A crise de agosto de 1954, na morte de Vargas, alçou os ideais do partido a um novo patamar, conformando uma aliança política que incluiu políticos, trabalhadores, intelectuais, sindicalistas e militares. Liderado por João Goulart, herdeiro do legado varguista, essa conjunção trabalhista foi responsável pela Campanha da Legalidade, após a crise política causada pela renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e defendeu a realização das reformas de base, conjunto de demandas populares que se tornaria o estopim para o golpe de Estado de 1964.
Em O imaginário trabalhista , Jorge Ferreira revisita acontecimentos centrais que marcaram o período democrático entre o Estado Novo e a ditadura militar, concentrando-se na participação política da população. Entendemos, assim, como Vargas se tornou um referente para um novo movimento político de trabalhadores identificados com suas propostas e, principalmente, como essas ideias culminaram na interrupção abrupta da experiência democrática brasileira, em 1964, com o triunfo reacionário que derrubou o governo João Goulart.
“Esta edição revista e ampliada examina alguns momentos paradigmáticos dessa vivência participativa que, de um lado, envolvia líderes partidários e sindicais, e, de outro, a população urbana e também boa parte dos trabalhadores rurais. Acompanhando tal trajetória, o autor recupera as ideias, as crenças, os símbolos, as palavras de ordem e os comportamentos consolidados no interior da cultura política trabalhista.” – Angela de Castro Gomes