O Seminário, livro 14 - A Lógica do Fantasma

"Lógica do fantasma": essa expressão retorna ao longo do Seminário como um leitmotiv. No entanto, nenhuma lição lhe é dedicada, nem mesmo um desenvolvimento um pouco mais elaborado. Isso significa que a lógica do fantasma desempenha aqui o papel de uma arlesiana de modo novo? Não, se quisermos admitir que essa lógica é o ponto de convergência das considerações de Lacan (...).
Assim, ele começa entrecruzando audaciosamente o grupo matemático de Klein e o cogito cartesiano, modificado de maneira a entregar a alternativa: "Ou não sou, ou não penso". A partir disso Lacan encontra a oportunidade de resumir em quatro tempos o transcurso de uma análise.
Outro entrecruzamento matemático-psicanalítico: o ato sexual esclarecido a partir do número de ouro. Disso decorre que "não há ato sexual", esboço desse dito que se tornou óbvio ululante: "Não há relação sexual". (...)
Muitas outras perspectivas e construções impressionantes esperam o leitor se ele quiser seguir por esses meandros, reviravoltas, mas também amadurecimentos e fulgurâncias, um pensamento obstinado e profundamente honesto que, quando encontra um obstáculo, nunca o contorna, e sim dedica-se a fazer dele uma pedra angular.

Jacques-Alain Miller