O TÚNEL
Físico de formação, o autor já havia publicado artigos e livros de ciência e filosofia. O túnel, contudo, o apresentou para um público amplo e conferiu a Sabato prestígio imediato, dentro e fora da Argentina. Com fortes tintas existencialistas, o romance chamou a atenção de Thomas Mann e Albert Camus – este promoveu sua publicação na França. Como os anti-heróis de Sartre e do próprio Camus, o protagonista de O túnel é um “eu” em processo de desintegração, preso num túnel que não consegue romper. Tanto assim que os demais personagens do romance – o marido cego de María, um primo e uma prima dela, alguns amigos de Castel, até a própria María – têm algo de fantasmagórico. Pois quem conduz a história é Castel, guiado por sua paranoia e sua raiva.
A Castel faltam compaixão e habilidade para se comunicar e sobram niilismo e repulsa pela humanidade, sobretudo pelos críticos de arte. Nutre uma impaciência que o torna violento com frequência; sua insatisfação o leva a desejar reter a presença e a atenção de María, o que se revela impossível. A relação entre os dois se alterna entre momentos de ternura voláteis e muitas situações de atrito. Como diz Caio Sarack no posfácio, Castel “é um condenado, e não um sujeito autônomo”, e Sabato, “um autor que quer provocar instabilidades”. Para isso, o escritor aborda os labirintos da mente do protagonista com um texto de clareza exemplar. “Desejo ser seco e não enfeitar nada”, afirmou Sabato certa vez. O resultado é um texto quase hipnótico em sua rapidez, o que deve explicar parte do sucesso de O túnel entre leitores de todo o mundo. Um sinal disso é o fato de o romance ter originado três longas-metragens argentinos (em 1952, 1977 e 1988).