origem-destino
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origem-destino é, sem dúvida, o livro da maturidade de uma poeta. Divididos em 3
partes, os 63 poemas constituem uma espécie de antologia feita com cuidado pela
própria autora. Note-se que no título (o mesmo do poema que fecha o livro, que se
abre com o poema “Crio vésperas”), as palavras “origem” e “destino”, grafadas em
letra minúscula, são aproximadas por um hífen. Trata-se não de uma determinação,
tampouco de um claro começo e de um claro fim daquilo que se passa numa vida ou
no período de uma vida em que um livro é gestado. Juntas, as duas palavras formam
uma só, num embaralhamento do tempo: dele, tempo, vamos nos assenhorando a
cada instante simultaneamente de rememoração, ação e projeto. Criamos vésperas.
Se a chegada tão aguardada desse livro revela a duração do tempo próprio da poesia
de quem o escreveu, é dentro dessa mesma duração que se dá nossa leitura, entre os
poemas mais intimistas e aqueles em que cinematograficamente somos deslocados
por cenas e cenários junto a personagens que, reais ou fictícios, passamos a conhecer.
No belo poema “Gráfica”, por exemplo, somos chamados ao encontro entre
trabalhadores – João, Cláudio, Moringa e Paulo, mas também a poeta- durante a
fabricação de um livro. Afinal, a quem se destina tudo isso, se não a nós, leitores,
contactados, tornados seus cúmplices? Quem estiver lendo este potente origem-
destino logo perceberá que Alícia Duarte Penna parece querer mais do que conversar
em voz baixa, como se em segredo, conosco: seus poemas nos são diretamente
entregues.
Mário Alex Rosa, num dos posfácios deste novo livro de Alícia, nota seu cuidado de
aparar cada verso, tanto nos poemas mais narrativos quanto naqueles curtíssimos que
o compõem. Teodoro Rennó, por sua vez, salienta que a narradora-poeta impõe-se ora
muito próxima da fala, ora segundo versos sintaticamente elaborados. Entre seu tom
quase confessional e seu desafiador distanciamento, que somente atrai, Alícia Duarte
Penna traz o “seu” leitor para esse universo que só a grande poesia consegue criar.
origem-destino foi organizado durante o período de maior isolamento durante a
pandemia de COVID 19. Sua proposta original, com o que se pretendia aproximar
poeta e leitores, conserva-se no produto final, cuidadosamente manufaturado pela
Impressões de Minas, com projeto gráfico de Elza Silveira, inspirado em antigos
cadernos e livros colecionados pela autora. origem-destino traz, ao seu final, três
qrcodes pelos quais se podem acessar os áudios de cada um dos subconjuntos de
poemas, na voz da autora.