Poesia e mito indo-europeus
Na busca pela poesia e pelo mito indo-europeus, temos que nos basear em fontes de caráter muito diverso e de datação muito variada, de hinos e textos ritualísticos do segundo milênio a.C. a canções e lendas populares registradas no século XIX d.C. Seria possível pensar que nada sólido jamais poderia ser construído a partir de materiais tão diversos. […] No entanto, a partir de dados de antiguidade tão desigual, esses estudiosos são capazes de erigir estruturas inabaláveis. A razão é simples. Embora as línguas passem por mudanças enormes em períodos de dois ou três milênios e, para um observador casual, se transformem ao ponto de se tornarem irreconhecíveis, pode ser que elas também preservem muitos traços fortemente arcaicos.
Se havia uma língua indo-europeia, a consequência é que havia um povo que a falava: não um povo no sentido de uma nação, pois pode ser que ele nunca tenha formado uma unidade política, e não um povo em qualquer sentido racial, pois pode ser que ele tenha sido geneticamente misto como qualquer população moderna que se define pela língua. […] Os indo-europeus eram um povo no sentido de uma comunidade linguística.”
Martin Litchfield West (1937-2015) é considerado um dos maiores especialistas no âmbito dos estudos clássicos, tendo se dedicado a uma ampla gama de temas, desde sua edição crítica à Teogonia de Hesíodo (1966) até um trabalho, por exemplo, sobre a influência da cultura do Oriente Próximo na antiga Grécia (A face leste do Hélicon, 1997). Laureado como professor emérito pela All Souls College, na Universidade de Oxford, um ano antes de seu falecimento, West era conhecido por sua grande erudição e por suas análises singulares e perspicazes, o que fizeram de sua vasta produção bibliográfica um ponto de referência obrigatório para várias áreas de pesquisa da antiguidade, como a épica, a lírica, a tragédia, a métrica e as religiões.
O autor presta aqui uma contribuição de enorme relevância para a área da mitologia antiga comparada e dos estudos indo-europeus. Trata-se de um compêndio compreensivo e introdutório de temas caros ao imaginário antigo que também não se furta de apresentar debates mais minuciosos e técnicos, contemplando tanto o público geral interessado quanto o especialista. A obra rastreia a importância da poesia antiga, assim como a do próprio poeta; apresenta divindades cosmogônicas, elementares, e mesmo algumas talvez apagadas pelo tempo; e confere à figura do herói seu devido renome e imortalidade.