Nascido em 1936 no Rio de Janeiro, Oduvaldo Vianna Filho foi dramaturgo e ator. Militante comunista desde cedo, escreveu cerca de dezoito peças tanto no âmbito do cômico e do dramático, quanto do épico, como é o caso de Rasga coração, de 1974.
Escrita nos últimos anos de vida de Vianna, Rasga coração se desenrola em dois eixos históricos concomitantes: o passado e o presente. Ligados por jogos de luz e canções, os eixos atravessam a história do Brasil desde o início do século XX até a década de 1970, na qual se apresenta o cerne do embate entre o protagonista, Manguari Pistolão, e seu filho Luca. O conflito de gerações e de posicionamento político entre os personagens, colocados paralelamente, torna a última peça de Vianna magistralmente atual e indispensável para aqueles que acreditam, como o autor, que o verdadeiro ato revolucionário 'é a luta contra o cotidiano, feita de cotidiano'. Para Oduvaldo Vianna Filho conseguir figurar quase setenta anos do Brasil em sua peça Rasga coração, era preciso ter amplo conhecimento das diversas transformações comportamentais e lutas políticas registradas ao longo de todas essas décadas, bem como lançar um olhar atento às minúcias mais
prosaicas.Com auxílio da jornalista Maria Célia Teixeira, Vianna vasculhou por mais de um ano os acervos da Biblioteca Nacional, empreitada que culminou no Dossiê de pesquisa. Composto de onze partes, o livro traz mais de quinhentas gírias, expressões, provérbios, piadas, além de músicas, filmes, nomes de remédios, manchetes dos principais jornais, rascunhos de falas e referências filosóficas. Embora tenha sido elaborado para fornecer subsídios para Rasga coração, especificamente, o Dossiê é independente em sua genialidade, e oferece ao leitor a oportunidade de observar os bastidores de criação de uma das mais importantes peças da dramaturgia do país.
