SALTO NO ESCURO - 1ªED. (2020)
(...) Em que lugar estamos? O mundo nunca foi tão bem mapeado quanto hoje, seja pelas imagens de satélite, cada vez mais nítidas e extensivas, seja pelas infinitas fotos feitas pelas pessoas comuns com seus smartphones. E, no entanto, jamais nos sentimos tão incapazes de realmente mapear nossa posição — individual e coletiva — em meio a um capitalismo global, financeirizado, e digitalmente conectado. Um todo irrepresentável, no qual estamos cada vez mais imersos, e, portanto, destituídos de qualquer distância crítica capaz de restaurar um sentido fenomenológico de orientação.
Tuca Vieira sabe muito bem que ler e mapear são condições essenciais para nos tirar da alienação, conduzindo-nos a alguma ação propositiva. Voltando suas lentes para um espectro amplo da cultura moderna e contemporânea, que inclui a literatura, o cinema, as artes plásticas, o urbanismo, as histórias em quadrinhos e os jogos eletrônicos, ele monta um rico caleidoscópio teórico capaz de envenenar o ideológico otimismo com o ciberespaço através da ótica distópica do cyperpunk. Em contraste com a crescente abstração das relações, à qual correspondem as fotos aéreas, o autor reelabora o lugar da experiência ao rés-do-chão como uma prática artística de resistência.
Como construir pontes entre olhares e escalas tão incomensuravelmente distantes e distintas? Esse salto no escuro é o grande desafio que temos pela frente.
Guilherme Wisnik