Terra arrasada – Além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista
"Rotas para um mundo diferente não serão encontradas nas ferramentas de busca da internet." Essa afirmação categórica é um dos motes de Terra arrasada, o mais recente livro do crítico e professor Jonathan Crary, autor de 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. Dando continuidade à teoria apresentada nos livros anteriores, Crary interroga aqui a maneira como o capitalismo tardio se apodera de nossas possibilidades de existência subjetiva e objetiva, mediante o que chama de "complexo internético", conjunto de dispositivos, lógicas e equipamentos ligados à internet que tem como sintoma mais gritante as redes sociais.
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Discutindo fenômenos contemporâneos como o 5G, a Internet of Things (IoT), a inteligência artificial, a biometria e o big data, o autor mostra como a operação do complexo internético caminha lado a lado com a devastação ecológica e a desolação da sociedade civil, lançando-nos num estado de "terra arrasada". Ao mesmo tempo, Crary argumenta que vivemos hoje num mundo exaustivamente on-line, mas não irremediavelmente on-line: assim como é falsa a percepção de que o capitalismo durará para sempre, a ideia de que nosso mundo e nossas vidas serão condicionados pela internet de forma permanente e definitiva é falaciosa. Na verdade, as duas andam juntas, de modo que é preciso combater ambas, reconsiderando nossas necessidades e redescobrindo nossos desejos, atualmente pervertidos em toda parte e a todo instante, em busca de outras formas de nos comunicar, cooperar e conviver.
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Essa tarefa, que coloca um desafio a nossa agência e a nossa criatividade, começa com a aceitação de "uma verdade irrefutável: não existem sujeitos revolucionários nas redes sociais".