Todos hiperativos? - A inacreditável pandemia dos transtornos de atenção
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Todos hiperativos? - A inacreditável pandemia dos transtornos de atenção

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Os contratempos, os desajustes e as perturbações da atividade e da atenção, hoje açambarcados pela psiquiatria de base farmacológica e a neuropsicologia sob o termo impreciso, inespecífico e pretensamente científico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), encontram uma convergência de fatores que, cada vez mais, os predispõem à conformação de uma epidemia. De fato, mas não de direito, nas últimas três décadas, o mundo ocidental tem assistido à transformação de um sintoma – a hiperatividade e suas consequências na concentração e na capacidade de perseverar – numa pretensa síndrome e até mesmo numa doença. De um lado, buscam-se seus fatores desencadeantes e contextos de aparecimento, que até o momento, basicamente, apenas se confundem com o que seriam as suas causas; de outro, sua evolução se acompanha de um impressionante aumento da prescrição de medicamentos, cujos efeitos no longo prazo ainda são em grande parte desconhecidos.

Essa evolução, que alcança não apenas as crianças, mas também adolescentes e adultos, vem sendo impulsionada pelas estratégias de marketing da indústria farmacêutica e pela adesão aparentemente insuspeita de pais, demais familiares e profissionais da saúde e da educação, a ponto de tanto o seu diagnóstico quanto o seu não diagnóstico se verem frequentemente amarrados a narrativas de um mau funcionamento corporal, capitaneado por imagens cerebrais, disfunções bioquímicas e suposições genéticas. Para os partidários do TDAH, há primeiro (e talvez apenas) o que se deve regular, mesmo que isso ocorra à custa de quem dele padece, bem como de sua história de vida e do contexto em que se encontra.

Neste vigoroso livro, muito bem construído sobre os alicerces de sua extensa trajetória clínica como psiquiatra e psicanalista, Patrick Landman não se furta a examinar com a devida atenção diferentes pontos de vista a respeito desse vasto problema essencialmente humano. E o faz munido, sobretudo, de algo que não se deve de antemão predicar: a escuta do que o sofrimento faz falar.

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