TUDO BALANÇA PORQUE DEUS DANÇA
O livro Tudo balança porque deus dança, de Aline Guimarães, vem acompanhado de um CD com 12 faixas de áudio. Alguns de seus poemas encontram-se musicados nesse disco. A autora-cantora explora, nesse sentido, a força melódica de sua poética, estabelecendo com refinamento um diálogo sincronizado entre os sons das palavras e os ritmos dos instrumentos musicais e de sua própria voz. No entanto, o resultado desse trabalho provém da encenação da peça homônima, encenada na baía de Guanabara. “Muito menos teria descoberto da vida sem escrevê-la” é um verso que dá a tônica do livro e transmite ao leitor sua força vital. Desse modo, a escritura manifesta o estado do sujeito e desvenda, consequentemente, alguns espaços futuros de busca. Contudo, não se trata de uma busca isolada, de todo solitária, pois, conforme outro verso, “O que não for palavra será música, e sendo canto, novamente poesia”. É a poesia que se encontra presente como força de representação absoluta de todo e qualquer movimento da vida. Trata-se da poesia não apenas da palavra, mas também da música, do canto, da dança. E a dança, nesse caso, não se restringe ao corpo: ela contamina todas as formas de linguagem. Há um permanente jogo especular em Tudo balança porque deus dança. Conforme Rodrigo Braga, que escreve o posfácio do livro, “Texto ofegante e repetitivo, como o motor de uma dança de criação eterna”. Seus poemas manifestam plasticamente os ritmos vários dessa artista. Em versos livres, com grande mobilidade e precisão, os poemas exigem do leitor imensa mobilidade para acompanhar o trânsito ora suave, ora brusco dos versos – o mesmo tipo de trânsito que o leitor poderá encontrar nas belíssimas ilustrações de Rafael Mannheimer, que oscilam do traço mínimo às imagens imbrincadas de linhas, numa urdidura que pode conduzir tanto à leveza quanto ao peso. Tudo balança porque deus dança, de Aline Guimarães, é um livro complexo, que possibilita ao leitor experimentar diversas formas de linguagem artística: a poesia, o canto, a música, as artes plásticas. Um livro, contudo, que a todo momento parece ter na palavra o veio de condução de todos os momentos sublimes dessa obra. Momentos sublimes que se tornam mais densos diante dos contatos que as distintas linguagens revelam entre si. Conforme seus versos, “É surpreender o mistério sem saciá-lo/ É desvendar lírios livres da colheira/ É despetalar cada detalha/ Para que o sutil/ Aponte a melodia”